Por mais que eu me envaideça de fixar a gravata, ou mesmo de amarrar os cadarços de forma a não me preocupar com os sapatos durante o dia, ou ainda de cumprir um nó de marinheiro para salvar os varais no quintal, nada disso é o suficiente para me acalmar.

Nem mesmo o meu histórico de dobrador de roupa para economizar espaço numa mala rivaliza com um mistério feminino. Sequer o meu talento para desembaraçar colares.

O que me causa espanto e inveja é a toalha amarrada nos cabelos da minha esposa quando ela sai do banho. Como ela consegue?

Já começo a ter ciúme pela vantagem feminina, porque toda mulher usa duas toalhas. Mesmo que a segunda seja produto de um roubo da toalha do homem estendida e dando sopa no cabide do box.

Fico abismado com a torção do pano, com o cruzamento perene das pontas.

Aquele turbante que é ciência, aquele turbante que é capricho de escoteira, aquele turbante que é evolução de um laço. O resto é jardim de infância.

Mal consigo firmar a toalha na minha cintura quando abandono o chuveiro. Minha competência com a saia improvisada não dura nem cinco metros de caminhada. Logo ela cai e me vejo envergonhado.

Minha esposa pode dançar headbanging do rock e metal, balançar freneticamente o rosto, correr na esteira, que não sofrerá nenhum deslizamento. Seu turbante é glorioso, de contornos baianos incontestáveis.

No namoro, eu já tinha experimentado um spoiler da perfeição de Beatriz com o seu moletom preso na cintura. Nunca caía, nunca afrouxava, nunca mudava de posição. Enquanto eu carregava meu casaco incômodo na mão pelo calor inusitado de um momento, como se estivesse levando uma garrafa vazia, ela permanecia com os braços livres para dançar.

Sigo seus movimentos pela casa para ver se não existirá uma falha humana. Ela passa pela cozinha com o turbante (tomará suco verde), pela sala (vai ler os jornais), pelo closet (escolherá as roupas do trabalho), e nada de a toalha despencar no chão.

E ainda deixa em cima da cama, para me humilhar de vez, como herança da touca, a toalha com o perfume concentrado do seu xampu, do seu condicionador, um buquê dos seus banhos, um sachê capaz de espalhar seu aroma pelos lençóis e aumentar progressivamente o meu vício por ela.

Talvez isso explique tudo o que sinto pela minha esposa. Deve ser feitiço. Deve ser alguma amarração que ela fez comigo. Com essas tranças invisíveis que ela trama nos tecidos.