Seria bom se tivéssemos algum poder sobre as forças da natureza. No entanto, a história mostra o contrário. Somos apenas inquilinos em um universo que nos entrega o que precisamos, mas também nos apresenta desafios, testando nossas capacidades. Nós, gaúchos, somos abençoados, pois não tememos vulcões em erupção que destroem cidades, nem tsunamis, terremotos e ciclones. Porém, estudos geocientíficos mostram que cheias e secas vêm se revezando há mais de 500 milhões de anos por nossos pagos, muito antes de chegarmos aqui.

Saber que enchentes já acontecem há muito tempo pode ajudar a enxugar a água, nem que seja a dos olhos de uma criança assustada. Não só dessa pequena criaturinha que alegra seus dias, mas também daquela que mora bem aí dentro de você, que está se sentindo confusa, com medo, culpada, impotente, indefesa e sem respostas para os filhos. Eu sou uma otimista em relação aos seres humanos, e os exemplos de solidariedade que estamos vivenciando nestes últimos dias fortalecem a minha convicção. Entretanto, desde pequenos fomos levados a acreditar que nós, humanos, somos desleais com nosso ambiente e nos culpamos pelos eventos climáticos, levando ao banco dos réus, principalmente, os agricultores, as grandes indústrias, as cidades, os carros e até os “puns” das vacas.

Sentimentos ruins em relação ao clima permeiam muitas mentes, de diferentes idades, cujos medos e inseguranças podem receber consolo através da nossa história. Estudando, se aprende que as forças da natureza já atuavam muito antes de modificarmos o ambiente com hábitos de morar e comer bem, termos telefones, gostarmos de andar de carro e viajar, termos nossos bichinhos de estimação, variarmos as vestimentas, refrescarmo-nos no ar-condicionado, etc.

É provável que continuemos gostando de tudo isso e, como inquilinos que somos, independente do clima, precisamos, junto às nossas crianças, assumir a responsabilidade de cuidar da nossa morada. Ser solidários uns com os outros; descobrir nossas habilidades e usá-las para contribuir com o meio; valorizar quem produz em nosso país; exigir das autoridades condições de saneamento; consumir o que precisamos; reduzir o lixo e dar destino correto a ele são mudanças que podemos adotar. Quem sabe assim, conscientes e unidos, nos preparamos para um convívio mais seguro e tranquilo com as adversidades da natureza.