Daquilo que aprendemos quando pequenas, o que ainda faz sentido na criação dos nossos filhos? Quais valores seguimos carregando até hoje? Que experiências foram essenciais na formação do nosso caráter? O que tendemos a replicar na criação dos filhos sem questionar os porquês? De quais vivências os privamos por medos e inseguranças que são apenas nossos?
E quanto ao nosso papel como filhas? Temos valorizado o esforço que nossos pais fizeram por nós, mesmo desconhecendo grande parte dele? Temos lembrado do nosso direito de pedir ajuda e de não precisar dar conta de tudo sozinhas? Ou temos assumido, sozinhas, as adversidades da maternidade e também os cuidados com nossos pais ou sogros? É importante lembrar: é saudável pedir ajuda, carinho e, sim, até mesmo um colo.
Diferente de muitas mães das gerações anteriores — que costumavam dedicar parte do tempo a longas conversas com vizinhas, trocando experiências —, hoje, embora muitas vezes sintamos que temos menos tempo livre, acessamos, em alta velocidade, uma vasta gama de informações sobre criação de filhos. Temos ainda a oportunidade de fazer terapia, conversar com amigas — presencial ou virtualmente —, desde que estejamos na nossa própria agenda.
Diante dessa realidade, percebemos o quanto somos privilegiadas e como precisamos valorizar esse presente que a vida nos deu. O presente de viver em uma época com tantas informações e tecnologias; o presente de termos sido filhas de pessoas imperfeitas como nós, mas cheias de boas intenções; e, por fim, o grande e desafiador presente de ser mãe.
Hoje, após 46 anos sendo filha, 16 anos sendo mãe e quase três décadas orientando famílias com crianças, reconheço a importância de cultivarmos um certo egoísmo saudável em meio a tantas funções que desempenhamos. Essa decisão exige autoconhecimento: identificar o que nos faz bem e o que não faz, dedicar momentos de qualidade para estar só ou com pessoas que nos inspiram, aprender a expressar nossas necessidades, cuidar da nossa saúde e, por fim, reservar tempo para desejar, planejar e realizar o que nos faz crescer.