Por vezes, e foram muitas, apostei em sonhos que não eram meus, fui levando a vida, passando o tempo, colecionando objetos e juntando emoções. Separei sentimentos, fatos
e ocasiões em espaços distintos, cataloguei cada um. Fiz um arquivo só meu! Um tempo de intensidade que se vive por inteiro, pelo menos era assim que eu pensava, era
o jeito que eu via. Acreditei, de fato, que estava vivendo.

Os dias passavam rápido, as horas pareciam voar, tudo ia acontecendo enquanto eu passava pelo tempo... Ou será que era ele quem passava por mim!? É difícil dizer. Eu mesma não entendo. Não percebi muitas coisas, custei demais a enxergar e, quando a conta chegou, cobrava-me por dívidas que eu simplesmente desconhecia. Por óbvio que neguei!
Recusava-me em pagar por algo que não era meu. Esbravejei exigindo explicações. Mas estava tudo lá! Só fui entender quando, lendo cada item de uma lista extensa e cruel,
enxerguei as sombras que faziam companhia e serviram de suporte (na verdade, desculpas que dei durante tantos anos)... Substitutas de uma vida que pareceu ser real, por tanto tempo, só agora eu vejo que estava equivocada. De real houve apenas os momentos de ordem prática, e quem ainda os vive por certo me entenderá... Na lista de minhas dívidas, estavam a falta que fiz, os passeios que perdi, os almoços em família nos quais eu não pude ir, as férias que eu não tive, presentes que eu não me dei, os abraços e os beijos que não recebi e tão pouco doei, as despedidas sem emoção... Meu tempo era curto e, embora eu tanto fizesse, sempre faltava algo. Ilusão! A imagem que eu tinha de mim
era apenas um esboço, um rabisco imperfeito. E tu me faz ver, agora, tudo que ficou perdido, reflexos de escolhas mal feitas, pensamentos confusos, um ser apressado e em muito obtuso, supria necessidades, vaidades alheias. Uma forma de compensar tantas ausências. E eis que tu chega em minha porta, de um jeito desajustado, mostrando-te impaciente, impiedosa comigo, querendo arrancar de mim algo que te neguei uma vida inteira... Sinceridades! Na verdade, neguei a mim mesma. 

Não reconheci teus traços, nem o som da tua voz... foi sutil por tanto tempo e agora esbarra em mim com força. Esperar não é mais possível. Chegamos até aqui, estamos, enfim, frente a frente... eu e tu e a culpa que consumiu o meu ser e hoje me vem em forma de cura,transformando tudo em mim... Ressignificar foi preciso, e
eu já não sou mais a mesma. Refiz os meus planos, resgatei alguns sonhos, repassei cada contexto e te trago comigo como lembrança distante. A tudo que sobrou, pus, então,
resiliência, com a lição que aprendi em ser o melhor de nós duas… Sou meu eu em evidência!


POR:
CLÁUDIA
OLIVEIRA
@claudiaoliver108