Como alguém que experienciou esse terrível evento, é difícil colocar em palavras a intensidade do medo e da incerteza que nos dominou. O chão começou a tremer violentamente, as estruturas ao redor sacudiam, e o pânico se espalhou rapidamente. As ruas, antes cheias de vida e alegria, tornaramse um cenário de caos e desespero. A sensação de impotência diante das forças naturais foi esmagadora.

 
Durante o tremor, eu e André nos seguramos na sacada do nosso quarto - rapidamente notamos que os procedimentos normalmente adotados em caso de terremoto não seriam
tão eficazes, então ficamos ali. Caso a estrutura colapsasse, acabaríamos nos segurando ou pulando do quarto andar, diretamente em um gramado.
Não sabemos ao certo o tempo que tudo durou, mas o silêncio após o tremor fez com que nos agarrássemos à constatação de que estavamos vivos: rapidamente, após pegarmos nossos documentos e celulares, saímos... com a roupa do corpo e os pés descalços. Ao longo do caminho, encontramos pessoas nos corredores que não sabiam o que fazer, nem o que havia acontecido.

 
Quando o funcionário do hotel abriu a porta, dizendo “para fora”, deparamo-nos com o caos, pessoas chorando, algumas somente com um pé do sapato, crianças deitadas no gramado, muitos ligando para seus familiares... e a mesma pergunta: “o que aconteceu?”.
A terra tremeu a segunda vez. A terra tremeu a terceira vez. E se acalmou. Logo após esses momentos, as sirenes já eram perceptíveis à distância. Fora este som e algumas vozes próximas em diversos idiomas, nada mais se ouvia da cidade. Perguntávamo-nos onde
iriamos dormir? Seria seguro? Subimos mais uma vez para o nosso quarto, juntamos tudo que pudemos, descemos com as malas pela escada e encontramos
refúgio junto à piscina do hotel, em um lugar longe do prédio principal. Sob um céu estrelado e limpo, as sirenes eram o único e pavoroso som de uma noite estranhamente calma.

A manhã chegou e, com ela, viu-se melhor o impacto na cidade. A necessidade de reconstrução se tornou iminente. O turismo, que é uma parte crucial da economia local, foi severamente afetado. Hotéis, monumentos históricos e infraestruturas turísticas foram danificados ou destruídos. Muitos perderam suas fontes de renda, dependendo do turismo para subsistência.

O que nos deixa feliz com este cenário é que, depois que tudo acalmou e soubemos que era seguro, muitas pessoas mantiveram os seus passeios. Isto não foi um gesto de descaso ou falta de empatia. Foi considerado, pelos próprios moradores, uma demonstração de que as coisas poderiam voltar a seu normal, e que ajudaria as pessoas a reerguerem-se... isso lhes deu esperança. No aeroporto, além de muitas pessoas partindo, havia pessoas chegando.
Tivemos de mudar de hotel, voltamos a um que já havíamos estado. Quando chegamos, falei para a pessoa que nos esperava: “eu estou de volta”. Ela respondeu com um sorriso: “que alegria!”. Eu, Jemima, precisei sorrir de volta, mesmo triste e assustada, pois eles estavam ali nos recebendo com um sorriso e cheios de hospitalidade, mesmo com a sua cidade e suas casas abaladas.

 
Esta ida ao Marrocos foi planejada e sonhada, pois lá seria gravado o primeiro episódio do programa Destinos. Uma parceria entre Onne e Diário, que irá levar você a
conhecer e experimentar, de forma única, a cultura, a paisagem e a gastronomia de cada viagem nossa.Diante da dúvida de levar ou não este programa adiante, ao
menos o episódio de Marrocos, ponderamos entre nós e também falamos com os habitantes locais. Decidimos que mostrar Marrakesh, suas cores, seu povo e sua história é nosso meio de colaborar para que esta bela cidade possa se reerguer.

Toda a solidariedade é crucial neste momento, seja por meio de doações financeiras, apoio direto ou fomento do turismo. Sabemos que algumas cidades vivenciam eventos traumáticos, mas sua grandeza está na resiliência e na determinação em superar as adversidades. Reconstruir e retomar a vidacotidiana, sem nunca esquecer.