Quando fui convidada a lecionar, há seis anos, tive certeza de que tiraria de letra, afinal, já vinha, há algum tempo, apresentando conferências em congressos, empresas e
eventos. No meu primeiro dia na universidade, encarei uma turma com cerca de 50 alunos de pós-graduação. Naquela noite, ao me atrapalhar com a dinâmica do conteúdo em
relação ao tempo, forcei-me a encerrar as atividades com 20 minutos de antecedência. A diferença entre plateia e classe
logo ficaria bem clara para mim.
O grupo não havia se inscrito ou comprado um talk show a fim de conferir o que a Fernanda Pandolfi tinha a compartilhar,
estava cumprindo a grade do curso em busca de uma formação e diploma, o que tornava quase irrelevante a estrela do professor lá na frente, desde que a figura dominasse técnica e soubesse ensinar com maestria o fundamental para o objetivo. “Bom, turma, acho que já falei demais hoje, então, vou encerrar por aqui”, finalizei, um tanto embaraçada frente ao horário não vencido. “E acho que vai ter que falar mais ainda nas próximas”, fui rebatida, imediatamente, por umaluno insatisfeito com os minutos de matéria suprimidos.
É um tanto óbvio que, desde a data fatídica, sobram horas para a quantidade de material que disponibilizo por módulo. Claro, isto, depois de sentir uma avassaladora vontade dedesistir envolta em constrangimento, que virou catapulta para a gana de ter êxito. Ser professor é um exercício intenso de doação e vulnerabilidade. É chegar como falsa autoridade em um ambiente em que se serve o tempo todo. É estar disposto a não saber e assumir com um corajoso “vou pesquisar”.
É ter a consciência de que toda e qualquer informação disponibilizada poderá ser checada em uma segunda tela como fruto da desconfiança. Condição amaciada por um
ambiente blindado para os erros, em uma zona em que ferve a criatividade, o estímulo, a conversa aberta e as oportunidades de conhecimento. Tem troca a cada instante, é uma imensa catarse entre aprender e ensinar. Basta entender que cada indivíduo tem necessidades únicas e direcionar a energia para o lugar correto.
A exemplo de outra situação, desta vez, com uma turma pequena, de oito alunos. Lembro de um estudante posicionado na fileira da frente, desgostoso comigo, com o sábado de
manhã, talvez, com o universo, que se empenhava em demonstrar o quão entediado o cenário lhe deixava. Depois de uma hora e meia tentando engajá-lo em peripécias frustradas para deixar a pauta mais atrativa, despedi-me para o intervalo de 10 minutos, exausta. Ao chegar à sala de professores,aproveitei para dividir o contexto com um colega mais experiente. “Não há o que eu faça para este sujeito gostar daaula”, desabafei. Curioso, ele devolveu: “Mas e os outros sete,estão gostando?”. Refleti: “sim, estão bem participativos”. Depois de um gole de café, ele pontuou: “Então, volta lá e dá aula para estes sete”.