Paisagens encantadoras, com rios cristalinos, cascatas majestosas, morros cobertos por uma vegetação exuberante e até águas termais. Além dessa riqueza natural, a Quarta Colônia oferece um verdadeiro mosaico cultural, onde os costumes gaúchos se misturam com influências afro-brasileiras, alemãs e italianas. Essa diversidade não está apenas nos museus, mas também nas ruas, enriquecendo a gastronomia, as danças, o idioma, a música, a arquitetura e os hábitos cotidianos. Para completar, a região é um verdadeiro tesouro arqueológico e paleontológico, com descobertas impressionantes de fósseis de dinossauros e cerâmicas do povo Guarani, achados que têm atraído a atenção de cientistas e turistas de todo o mundo, colocando as cidades entre os destinos mais fascinantes do país. É essa combinação única de natureza, cultura e história que torna a Quarta Colônia um roteiro turístico cada vez mais procurado, fazendo com que muitos (re)descubram e se maravilhem com tudo o que essa região tem a oferecer.

Superando gradualmente as lembranças tristes de maio, quando uma enchente deixou um rastro de destruição, Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira Martins, as cidades que compõem a Quarta Colônia, cada vez mais percebem que o futuro delas no turismo precisa ser trabalhado em conjunto.

– Estamos elaborando um Plano Regional de Turismo, em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria, para desenvolver essa área de maneira planejada. Isso possibilitará que cada município crie o seu plano, mas que ele esteja alinhado regionalmente, para um crescimento conjunto – afirma o presidente do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (Condesus), Matione Sonego.

Quando decidiu abrir o restaurante La Sorella, pioneiro na gastronomia de imigração italiana em Silveira Martins, há 32 anos, Celito Roes Dalmolin, 66 anos, já acreditava no potencial turístico da região. Ao observar o fluxo de visitantes durante as festas religiosas do município, que vinham saborear as delícias da comida local, como sopa de agnoline e risoto, ele percebeu uma boa oportunidade para conquistar visitantes interessados na culinária farta e saborosa.

– Incorporamos os pratos das festas religiosas a receitas de família. A tábua de frios servida no La Sorella foi inspirada naquela que meu avô servia no porão da casa, sempre acompanhada de muito vinho – conta Dalmolin.

O que ele não poderia imaginar é que o turismo se desenvolveria a ponto de se tornar um dos maiores setores econômicos, ao lado da agricultura e dos serviços. Hoje, além do turismo gastronômico, outras áreas, como eventos, turismo científico, cultural, rural, religioso e ecoturismo, conquistam cada vez mais visitantes e empreendedores interessados nas boas oportunidades que essas cidades oferecem. São mais de 300 eventos religiosos na região ao longo do ano.

– Sou da região da fronteira, e quando conheci a Quarta Colônia durante a pandemia, me encantei e não quis mais ir embora. Estamos captando eventos importantes para nossa região, que estão trazendo cada vez mais visibilidade e ajudando a tornar a Quarta Colônia um case de sucesso em governança para o turismo e um destino consolidado no mapa turístico do Estado – conta a turismóloga Bianca Trindade, mestre em Turismo e Hospitalidade e doutora em Desenvolvimento Regional.

A receita do sucesso 

Segundo Bianca, além da própria organização das cidades, três fatores foram fundamentais para acelerar o potencial turístico da Quarta Colônia. O primeiro foi a chegada do complexo das Termas Romanas, que atraiu uma gama diversificada de visitantes. O segundo fator foi a capacitação educacional, especialmente através da Antonio Meneghetti Faculdade, que criou um Bacharelado em Gastronomia e um curso Tecnólogo em Hotelaria. Finalmente, a conquista do selo de Geoparque da UNESCO, que certifica a importância científica, cultural, paisagística, geológica, arqueológica, paleontológica e histórica da região, foi crucial.

Os "hermanos", como uruguaios e argentinos, interessados em passar temporadas de pelo menos três ou quatro dias nas Termas Romanas e, posteriormente, explorar os diferentes roteiros — principalmente os relacionados à paleontologia — são a maioria. No entanto, também há um bom movimento de turistas provenientes de cidades como Santa Cruz do Sul, Rio Pardo, Porto Alegre, Santa Maria, além de estados vizinhos como Santa Catarina, São Paulo e Paraná.

– Já temos levado o turismo da região para as principais feiras e captado guias interessados em trazer visitantes para a região. Em dezembro, teremos o 30º Congresso Nacional de Turismo aqui na Quarta Colônia, e vamos ver o Brasil inteiro voltado para cá. Isso exige uma excelência cada vez maior no que oferecemos. O turista que chega aqui quer encontrar estrutura e opções, e cada vez mais ele tem isso à disposição – comenta Bianca.

Em um momento que marca o bicentenário da imigração alemã, 147 anos da imigração italiana e diversas descobertas ligadas à paleontologia e arqueologia, não faltam motivos para que cada vez mais pessoas estejam interessadas em explorar os diferentes caminhos da Quarta Colônia.

Região na mira dos investimentos

O acesso de chão batido a um trecho da estrada que leva até a Estalagem e Gastronomia Monte Rei pode assustar um pouco os visitantes à primeira vista, especialmente depois das chuvas que prejudicaram as vias da Quarta Colônia. No entanto, ao chegarem lá, eles se encantam com um espaço que oferece cabanas aconchegantes e um restaurante com um cardápio de dar água na boca, incluindo risotos, carnes, massas, variedades de pratos e sobremesas.

– Quando escolhemos esse local, os principais fatores foram a beleza natural, a tranquilidade e a segurança. Isso sem contar a mentalidade empreendedora que, cada vez mais, está tomando conta da região. Para nós, que vivemos do turismo, é fácil perceber como as pessoas estão descobrindo as cidades da Quarta Colônia –destaca o proprietário, Odair Salvini.

O negócio deu tão certo que Salvini resolveu investir em outro empreendimento, o Dino Cammino Restaurante & Café, em São João do Polêsine.

– Fizemos isso justamente por acreditar em um crescimento no setor de turismo, impulsionado pelas recentes descobertas relacionadas aos dinossauros. Cada vez mais queremos tematizar o local," adianta.

No mês passado, o Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (Condesus) protocolou cinco projetos na área de preservação ambiental, reflorestamento, monitoramento dos rios, mata e solos. As prefeituras não estão apenas focadas na sustentabilidade, mas também no desenvolvimento de diferentes roteiros, incluindo ecoturismo, turismo religioso, cultural, gastronômico e de eventos.

– É notável o crescimento no número de estabelecimentos voltados ao turismo. Muitos empreendedores estão apostando na nossa região. A descoberta de mais um fóssil, que provavelmente é de uma nova espécie, está atraindo ainda mais atenção. Isso mostra a força da região na paleontologia e no turismo. Estamos buscando recursos porque queremos desenvolver projetos em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria para recuperar a região e receber cada vez melhor quem chega até aqui – afirma o presidente do Condesus, Matione Sonego.

Para Carina Stefanello, proprietária do restaurante Arrivo em Vale Vêneto, a Quarta Colônia e suas raízes de fartura à mesa e do bem-servir são elementos que também conquistam os visitantes.

– Ela oferece todos os itens que o turista deseja, como excelente gastronomia, belezas naturais, muita cultura, acessibilidade e estrutura de hotelaria para atender muitos hóspedes. Mas, não podemos deixar de ressaltar que as receitas de família e o jeito acolhedor de receber cada um que chega também são diferenciais que agradam muito – reforça a empreendedora.

O Parque Termas Romanas, um dos maiores complexos de águas termais do Brasil, revolucionou a região da Quarta Colônia, transformando não apenas sua paisagem, mas também impulsionando seu potencial turístico desde sua inauguração, há pouco mais de três anos. Localizado no Recanto Maestro, o parque se estende por cerca de 150 hectares e se tornou um destino imperdível para quem busca relaxamento e bem-estar.

As águas termais naturalmente salgadas e quentes, com propriedades medicinais, são o grande atrativo, atraindo turistas de todo o Brasil e do exterior. O local conta com seis piscinas, sendo quatro termais a 42ºC, além de ofurôs com hidromassagem, uma piscina coberta e diversas áreas de relaxamento.

O Resort Termas Romanas, que oferece opções de Day Use e hospedagem, proporciona uma experiência diversificada, incluindo atrações culturais, cinema e passeios ao ar livre. A oferta gastronômica é um destaque à parte, com uma vista privilegiada para os pomares de oliveiras, complementando a experiência com uma variedade de restaurantes e sabores.

No Hotel Recanto Business, que acaba de completar oito anos, o impacto positivo do aumento do turismo é evidente.

– A mudança é visível e expressiva, aumentando nossa responsabilidade e trabalho para atrair ainda mais turistas para nossa região. Estamos recebendo muitos visitantes uruguaios e argentinos, com uma média de ocupação de 65% e recebendo mais de 20 mil turistas por mês – pontua a diretora do hotel, Patricia Rossato.

Ela destaca que, com o movimento de turistas normalizado e a retomada dos eventos, a demanda por serviços de qualidade só cresce.

– O planejamento é feito mensalmente, pois as exigências dos turistas aumentam diariamente. A chegada da escola de gastronomia e hotelaria será essencial para a qualificação da mão de obra e a melhoria contínua dos nossos serviços – comemora.

O Parque Termas Romanas e os empreendimentos ao seu redor, como o Hotel Recanto Business, não apenas trouxeram uma nova vida à Quarta Colônia, mas também elevaram o padrão de hospitalidade e bem-estar na região, consolidando-a como um destino turístico de destaque no Brasil.