Contar a história do cirurgião-dentista Paulo Antônio Lauda, 62 anos, e de seu filho Luiz Paulo, 36, é mais do que escrever sobre a relação entre um pai e seu primogênito, ou mesmo sobre dois colegas de profissão que se orgulham de serem grandes amigos, com muito a compartilhar dentro e fora do consultório. Eles fazem parte de uma família que tem uma ligação muito especial com Santa Maria, a qual não pode ser contada sem remeter a elementos cheios de memórias afetivas para os santa-marienses, como o som do trem ou o mapa da cidade recém começando a ganhar os contornos da primeira universidade pública do interior do Brasil. Foi no Bairro Itararé, onde a família se orgulha de morar até hoje, que o ferroviário Pedro Lauda e a dona de casa Carolina Lauda criaram, com muito sacrifício, os dois filhos, Paulo Devanier (1928-1986) e Jorge Derly (1930-2003). Ambos fizeram algo que se tornou uma verdadeira façanha para filhos de ferroviários naquele tempo: tornarem-se médicos. Como naquela época sequer havia faculdade em Santa Maria, iam de trem para o Paraná, onde se formaram. De volta à cidade, a convite do fundador da UFSM, José Mariano da Rocha Filho, ambos deram  aulas na instituição. Mas, enquanto Paulo Devanier Lauda resolveu seguir a trilha da política, hoje, inclusive, dando nome à principal avenida da Cohab Tancredo Neves, a uma escola e até à Comissão da Verdade da UFSM, Jorge Derly, que é pai de Paulo Lauda e avô de Luiz Paulo, transformou-se em um dos mais importantes anestesistas da história de Santa Maria. Entre os inúmeros feitos de Jorge Derly, estão ter realizado, em 1957, a primeira anestesia conduzida por um médico especializado no município, assim como ter fundado tanto o serviço de anestesia na cidade quanto o Banco de Sangue no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo.

Por mais que já tenha ouvido essa mesma história da boca de seu pai incontáveis vezes, é impossível não perceber o olhar de admiração que toma conta de Luiz Paulo ao constatar como, mais de seis décadas depois, a tradição dos Lauda se mantém especial, especialmente no campo da saúde de Santa Maria:

Quando estava na época de escolher a minha
profissão, pensei em diferentes possibilidades,
mas eu tinha crescido vendo de perto o
trabalho do meu pai e até o ajudando em
pequenas tarefas que ele me ensinava. Ver
o amor que ele sempre teve pela profissão,
a forma como sempre se dedicou a cada
paciente, inspirou-me muito. A minha irmã,
Anelise, também seguiu na área da saúde, e é
médica anestesista

E, por falar em orgulho, Paulo não esconde a alegria dele e
da esposa, Elise Zanini Lauda, em ter os dois filhos e, agora,
as três netas, morando por perto. Como ele mesmo brinca,
de uma hora para outra, a casa se encheu de bebês. Lavínia
e Lílian, de 6 meses, são filhas de Anelise, e Cora, de um
mês, a primeira filha de Luiz Paulo e de Bibiana Simões
Marquezan Lauda.

 
– Tanto o meu pai quanto a minha mãe, Iolanda, eram fi lhos de
ferroviários, então, desde cedo, essa questão do trabalho foi algo
presente na minha vida e na dos meus irmãos, Jorge Derly e José Pedro,
mas, mais importante que isso, era a família, a união familiar. O meu
pai e a minha mãe se conheceram no Bairro Itararé, já eu não nasci no
bairro, mas completei minhas primeiras 24h de vida lá, na casa da vó,
e foi ali, ao redor da casa dos meus avós, que eu cresci, sendo, hoje,
imensamente feliz porque a nossa família mora ali, num mesmo pátio;
isso, para mim e para a minha esposa, não podia ser melhor. Somos
avós de primeira viagem, mas em dose tripla, e estar perto das nossas
três netas é algo que nos faz imensamente realizados. Essa opção dos
nossos fi lhos em continuarem na cidade nos proporciona algo muito
especial, que nem todas as famílias daqui conseguem, que é estarmos
sempre bem próximos – afirma Paulo.


CUMPLICIDADE ENTRE PAI E FILHO

Num primeiro olhar, seria bem possível dizer que odontologia é a palavra que une a geração de Paulo Lauda à do filho. Mas bastam alguns minutos de conversa para se perceber que, na verdade, para se resumir a relação dos dois, existe uma melhor:
cumplicidade.

 
– Quando eu e a Elise nos casamos, já queríamos muito ter fi lhos, mas
se passaram quatro anos, e a gente não conseguia. Ela engravidava, mas
acabava perdendo os bebês. Quando o Luiz Paulo nasceu, foi uma alegria
tão imensa, porque aquele era um grande sonho nosso, algo que, depois, a
Anelise tornou ainda mais especial – conta Lauda.
A cumplicidade entre pai e filho é tanta que, até mesmo para
contar a sua história, os dois trocam olhares, sorrisos e ajudam a
construir as lembranças do que viveram em todos esses anos em
que compartilham seus melhores momentos.


Eu sempre busquei uma relação de amigo
com os meus filhos. Sempre busquei que as
viagens, os passeios, os esportes... unissem
a gente. E acho que, com o Luiz Paulo, algo
que nos aproximou muito foi a lancha. Ele
sempre gostou de velocidade, então, quando
compramos uma lancha, ela se tornou algo
muito nosso, que nos uniu para fazermos algo
de especial juntos.


Por falar em velocidade, outra paixão que une a dupla são os carros:

 
– Também temos uma ofi cina em casa, onde gostamos de trabalhar juntos.
Nos últimos tempos, tem sido mais corrido, e a gente não tem conseguido usar
muito esse espaço, mas ele sempre foi um lugar de encontro para nós dois –
complementa Luiz Paulo.
Paulo Antônio Lauda teve a infância de boa parte dos meninos de
Santa Maria de sua época: estudou no Colégio João Belém e, depois,
no Santa Maria. Formado em Odontologia pela Universidade
Federal de Santa Maria, onde também foi professor, ele trabalhou
como tenente dentista temporário no Exército, exerceu o cargo de
dentista da Susepe por 10 anos e atua desde 1984 na Odontologia
Lauda, a clínica particular da família.
– É impressionante como algumas coisas marcam a vida da gente. Os
meus pais tiveram de fazer uma reabilitação oral com o doutor Luiz César
da Costa. Ver como aquele trabalho impactou a vida deles me tocou de tal
forma, que resolvi seguir essa profi ssão também. Uma coisa que eu trago
muito forte comigo é como uma geração impacta na vida da outra em uma
família, como o meu avô, que tinha muito forte com ele a vontade de que seus
fi lhos estudassem – e isso não era algo comum para um ferroviário naquela
época. Eu sempre fui estimulado e sempre gostei de estudar, estudo muito até
hoje, quero sempre me manter atualizado, e a odontologia foi algo que mudou
completamente da época que me formei para hoje, com os incríveis avanços
da tecnologia digital. Então, quando olho para o meu fi lho e vejo nele essa
vontade de estudar também e, mais do que isso, o fato de ter se tornado uma
das maiores referências do país na odontologia digital, eu fi co imensamente
realizado – afirma Paulo Lauda.

 
Atento à conversa, Luiz Paulo não demorou para dizer que, para ele, a questão do exemplo também define o que o pai representa para ele:


Eu e o pai sempre fomos melhores amigos. Eu
sempre soube que podia contar com ele não só
na hora das coisas boas, mas para dar conselhos
quando tinha qualquer problema. E ele também
foi exemplo para saber como seria o dia a dia
da profissão, na hora de dar conselhos sobre
quais especializações fazer e o que poderia
agregar mais para o meu futuro. Nem tudo são
rosas, a gente tem os nossos problemas, mas a
forma como conseguimos resolver torna tudo
mais especial. Eu acabei de ser pai, e muito do
que quero ser como pai trago dessa relação que
sempre tivemos.


TRADIÇÃO E INOVAÇÃO


Quem lê sobre a história de uma família com tradição na área da Saúde ou que conhece a Odontologia Lauda, com um espaço amplo e os equipamentos mais modernos da área, pode pensar que tudo foi fácil na trajetória da família. Mas, segundo eles, não foi bem assim.

 
– Quando me formei, Santa Maria já tinha seus nomes fortes em
atuação, e construir uma história nesse campo aqui não foi nada fácil.
Conquistar um espaço em meio aos fi gurões exigiu muito trabalho.
Minha vida inteira foi fazendo cursos, especializações, isso nunca
parou. No início, parte do meu consultório funcionava no apartamento
onde a gente morava. Na minha lua de mel mesmo, nós não viajamos.
Eu precisava trabalhar. Então, essa é uma história escrita com muito
trabalho e também com muita parceria com os meus dois fi lhos e com a
minha esposa – afirma Paulo Lauda

Este ano, a Odontologia Lauda completou 41 anos em Santa Maria.
Ela marcou seu nome na história da cidade por trazer para cá o
que havia de mais moderno em tratamentos odontológicos no país,
especialmente no que diz respeito aos implantes e às próteses
dentárias. Com o avanço dos processos digitais e depois de estudar
em São Paulo, conhecendo de perto algumas das principais
referências mundiais no assunto, Luiz Paulo achou que era a hora
de começar a implementar esse tipo de tecnologia em Santa Maria.
– Eu acho que isso mostra muito o respeito que sempre tivemos em nossa
relação pessoal e profissional. O meu pai, em nenhum momento, ofereceu
resistência. Não fez como outros profissionais, que, até hoje, optaram por
seguir o método tradicional. Era 2016 quando começamos com os novos
equipamentos. Hoje está tudo muito avançado, mas ali estava começando, era
preciso desvendar os equipamentos. Deu muito trabalho, mas também aprendi
muito – conta Luiz Paulo.
Um dos principais avanços do trabalho conjunto foi poder montar
um laboratório próprio e também focar nos atendimentos sob o
ponto de vista da experiência, desmistificando que os tratamentos
são muito caros e que a experiência de ir ao dentista é dolorosa.

 
– Trabalhamos cada vez mais para que as pessoas percebam que é possível
fazer seus tratamentos, inclusive os implantes, sem dor. Trabalhamos para
que as pessoas possam sorrir e tenham alegria em sorrir, sintam-se bem com
o seu sorriso, porque isso não é só uma questão estética, é saúde – afirma
Lauda.


Para comemorar os seus 41 anos, a Odontologia Lauda inaugurou um espaço novo, na Rua Tuiuti, muito mais amplo, moderno e com mais profissionais.

 
– Tudo tem a nossa supervisão, porque não queremos perder esse nosso olhar,
queremos manter a experiência das pessoas que conhecem o nosso trabalho,
mas agregar mais profissionais na equipe foi muito positivo. Hoje temos uma
equipe ótima e o que há de mais avançado em odontologia digital na cidade.
Isso permite ter um controle muito maior do histórico do paciente, ter uma
precisão bem maior nos resultados e, ainda, diminuir os custos do processo.
Para o paciente, o resultado é mais satisfatório em todos os sentidos, inclusive
no tempo que demora para os procedimentos serem concluídos. Essa
revolução digital que vivemos veio para trazer sorrisos incríveis e duradouros
– comemora Luiz Paulo.

 
Para quem ainda tem aquela visão do barulhinho incômodo da broca do dentista em mente quando se fala em ir ao consultório, conhecer o espaço da Odontologia Lauda é uma grande descoberta. Vários computadores, softwares, scaneres e impressoras 3D mostram que o mundo da odontologia avançou (muito!). Em meio a tanta tecnologia, uma que chama a atenção é o sistema CAD/CAM, que substituiu o método tradicional de confecção de próteses. Ele une o design ou desenho assistido por computador, com o processo de manufatura assistida por computador. Resumidamente, essa tecnologia permite escanear a arcada do paciente, criar o projeto da prótese e confeccioná-la em questão de minutos.

 
– No passado, seria impossível sonhar com algo assim – afirma Lauda.
Embora, na clínica, a tecnologia seja um dos grandes pontos fortes,
a dupla de dentistas não abre mão do fator humano.

 
– Para termos, de fato, um trabalho que gere experiência, precisamos ter as
pessoas qualificadas para atender bem e para exercer cada uma das suas
atividades com qualidade, pessoas que sejam felizes com o trabalho que
fazem. Temos trabalhado nisso, e algo que pretendo implementar também,
até porque lecionar é algo que me traz muita satisfação, é promover cursos
no nosso espaço. Falta mão de obra qualificada na cidade, e podemos
trabalhar para melhorar isso – afirma Lauda.

Como se não bastasse a aventura de navegar na vida de avô e a correria da clínica, Lauda, que sempre gostou de escrever, também descobriu recentemente o prazer que é lançar um livro.

 
A inspiração veio dos estudos relacionados ao espiritismo,com os quais se envolve há muitos anos. A primeira edição da obra “Nova Itália” foi lançada em agosto, e Lauda já trabalha no segundo volume dela.

 
– Fiquei surpreso ao ver como o livro foi procurado, ele esgotou
rapidamente, e foi uma satisfação enorme ver as pessoas reunidas,
interessadas naquilo que escrevi, isso me motivou bastante a dar
continuidade à história – explica.


 
E a fala não é exagero: por cerca de três horas, o espaço da Livraria da Mente manteve-se lotado de gente, que foi abraçar o autor e autografar o romance espírita. Nas receitas que adora preparar para a família, o mais aguardado é o seu famoso “Carreteiro a Paulo Antônio”: Lauda tem ingredientes especiais que gosta de usar para dar mais sabor ao prato. Na história que construiu ao longo dessas mais de quatro décadas de profissão, não é diferente. É ao aliar tradição e inovação, investindo em tecnologia sem esquecer que o fator humano é muito importante nesse processo, que ele torna tanto a sua trajetória profissional como a sua história de vida muito mais especiais. Luiz Paulo, que, como ele mesmo diz, orgulha-se do exemplo do pai, já mostra, há muito tempo, que essa é uma receita que se perpetua entre as gerações.



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