Nascida em uma família onde a medicina, e mais especificamente a neurocirurgia, está presente no DNA, a neurorradiologista Daniela Teixeira carrega em seu nome um legado que transcende gerações. Filha do renomado neurocirurgião Enedir Teixeira, um pioneiro da neurocirurgia no Rio Grande do Sul, Daniela encontrou no exemplo do pai uma inspiração constante para trilhar seu próprio caminho na área médica, seguindo os passos de um gigante que sempre foi movido pela paixão pela inovação e pelo compromisso com seus pacientes.
— Desde criança, acompanhei a rotina do meu pai, com dias longos e noites curtas. Naquela época, não havia toda a tecnologia que temos hoje, como tomografia ou ressonância. O que ele tinha era um conhecimento profundo da anatomia e das doenças do sistema nervoso. O diagnóstico dependia do exame físico e dos sintomas apresentados pelos pacientes, uma habilidade que ele desenvolveu com maestria e que o tornou um médico à frente do seu tempo — afirma, sem esconder a admiração.
O encantamento de Daniela pelo pai não se limita ao aspecto técnico da medicina. Enedir Teixeira ficou conhecido pela sua seriedade e dedicação. Como uma marca registrada, ele sempre ia ao hospital de terno e gravata, independentemente da circunstância, e nunca demorava mais do que cinco minutos para chegar ao hospital quando era chamado. Isso reflete sua prontidão para salvar vidas. Para Daniela, essa postura reflete o profundo respeito que ele nutria por seus pacientes e suas famílias, além da compreensão da gravidade das doenças que tratava.
— Ele sempre soube da importância de um tratamento a tempo para dar ao paciente uma chance de se recuperar. Muitos que passaram por ele o descreveram como um médico comprometido, atualizado e sempre à frente de seu tempo — orgulha-se a filha.
A trajetória de Daniela na medicina foi profundamente influenciada por essa figura paterna exemplar, mas, dia a dia, ela também constrói seu próprio legado. Especialista em neuroanatomia intervencionista, uma área que começou a se desenvolver com o neurocirurgião português Egas Moniz, Daniela vem se destacando na realização de cirurgias minimamente invasivas, utilizando técnicas de ponta para tratar doenças vasculares do cérebro.
— É fascinante como podemos resolver algo muito sério de forma segura e eficaz — afirma, destacando o avanço tecnológico na área, que permite um tratamento mais rápido e com menos complicações para os pacientes.
Atualmente, Daniela enfrenta os desafios de uma das maiores preocupações de saúde pública no mundo: o AVC (Acidente Vascular Cerebral). Estima-se que, até 2050, o número de pessoas afetadas pela doença aumentará em 50%, atingindo 10 milhões de casos. No Brasil, o AVC já é a principal causa de morte, superando o infarto agudo do miocárdio, o que torna o trabalho de prevenção, diagnóstico e tratamento ainda mais crucial.
— A hipertensão arterial é o principal fator de risco para o AVC, e muitas vezes não é detectada ou não é controlada — explica Daniela.
A médica enfatiza que 90% dos AVCs poderiam ser evitados com a prevenção dos fatores de risco, como controle da pressão alta, diabetes, colesterol alto, tabagismo, consumo excessivo de álcool, doenças cardíacas e obesidade.
— A atividade física regular, no mínimo três vezes por semana, é uma das principais estratégias de prevenção — destaca.
O tempo também é um fator crítico no tratamento do AVC. Daniela explica que o tratamento mais eficaz, a trombólise — medicação que dissolve o coágulo responsável pelo AVC isquêmico — deve ser administrado até quatro horas e meia após o início dos sintomas. Após esse período, outra opção é a trombectomia, um procedimento para retirar o coágulo por meio de um cateter, que pode ser realizado até 24 horas após o início dos sintomas. No entanto, é essencial que o paciente chegue ao hospital o quanto antes para que esses tratamentos possam ser aplicados.
Daniela também reforça a necessidade de políticas públicas eficazes para lidar com a crescente demanda por tratamento de AVC.
— Precisamos de centros de referência em hospitais que ofereçam atendimento imediato com uma equipe multidisciplinar, além de centros de reabilitação para os sobreviventes de AVC — afirma.
A reabilitação é fundamental para restaurar a autonomia e a qualidade de vida dos pacientes, já que o AVC é uma das principais causas de incapacidade no mundo. A área de atuação de Daniela está em constante evolução. Ela é uma entusiasta das inovações tecnológicas na medicina, como a inteligência artificial (IA) e os sistemas robóticos, que já estão transformando a prática da neurocirurgia e da radiologia intervencionista.
— A IA pode nos ajudar tanto na análise das imagens quanto no planejamento das cirurgias, tornando os procedimentos mais eficientes e seguros. Além disso, os sistemas robóticos, que já estão sendo implementados em outras áreas da medicina, terão um papel fundamental no futuro, especialmente em regiões onde há escassez de profissionais especializados — afirma.
A paixão de Daniela pela inovação tecnológica e pelo avanço da medicina é algo que ela compartilha com o pai. Assim como ele investiu no primeiro equipamento mais sofisticado do Rio Grande do Sul, Daniela busca constantemente aprimorar seu conhecimento e suas habilidades para oferecer o melhor tratamento possível a seus pacientes.
— Sempre estive motivada a buscar o aperfeiçoamento, os melhores equipamentos e as melhores forma de conduzir as doenças vasculares do cérebro — revela.
Em 2020, Daniela teve o privilégio de receber em Santa Maria o neurocirurgião francês Charbel Mounayer, um dos maiores nomes da neurorradiologia intervencionista. O evento contou com a presença de profissionais de várias partes do Brasil e foi um marco na carreira de Daniela. — Foi um momento de muita satisfação, pois proporcionamos aos nossos pacientes um tratamento de excelência — recorda.
Além de seu pai, Daniela destaca o papel fundamental de sua mãe, Jair, no sucesso da família. — O apoio incondicional da minha mãe foi essencial para que meu pai pudesse trabalhar com o pensamento focado nos pacientes — conta.
Hoje, Daniela Teixeira segue escrevendo sua própria história na medicina, junto ao Instituto de Radiologia Vascular que funciona no Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo. Para ela, assim como para seu pai, a medicina não é apenas uma profissão, mas uma missão. E nessa missão, Daniela cumpre o mesmo compromisso e paixão que fizeram de seu pai uma lenda na neurocirurgia.