
Quando Allan Vitor Beckmann, 27 anos, subiu ao palco do Campeonato Brasileiro de Sushi em 2024 para receber o título de Melhor Sushiman do país, levou consigo não apenas o orgulho por seus pratos meticulosamente preparados, mas também os sonhos que carregam sua trajetória desde os 15 anos. Foi ainda como garçom em uma churrascaria que ele descobriu o peso do trabalho e a esperança de um futuro melhor.
A história dele não é só sobre sushi, mas sobre transformação, disciplina, fé e uma busca insaciável por conhecimento. Hoje, ele é um chef multifacetado: chef executivo nos restaurantes Sushi Bar Morita e Terrazzo Restobar, consultor de gastronomia japonesa e personal chef. Sua atuação une liderança e a criação de experiências únicas na casa de seus clientes. Porém, o que hoje parece uma receita de sucesso começou de forma humilde, com um adolescente em busca de uma oportunidade em um sushi bar local que oferecia treinamento para iniciantes.
– Aos 17 anos, minha mãe me deu um puxão de orelha, e eu comecei a distribuir currículos pela cidade. Foi assim que entrei no mundo do sushi, sem nenhuma experiência. Nos primeiros anos, percebi que me faltava muito estudo. Fiz meu primeiro curso, e isso abriu um universo novo para mim – relembra.
Esse novo mundo exige precisão e sensibilidade. Durante os três meses de preparação para o campeonato, Allan moldou cerca de 1.500 peças de sushi, testando habilidades, paciência e criatividade. A inspiração veio de pesquisas sobre competidores mundiais e do aprendizado com outros profissionais especializados. Seu pratosímbolo, um niguiri de barriga de salmão trufado com vieira, reflete anos de estudo e imersão cultural.
– O pessoal adora esse niguiri. Acho que ele se tornou minha marca registrada aqui na cidade. Esse prato é o resultado de uma imersão que vai além da técnica; é sobre entender a tradição por trás de cada elemento – explica.
Ser eleito o Melhor Sushiman do Brasil foi apenas o começo. Em breve, Allan representará o país no campeonato mundial em Tóquio, enfrentando os melhores do mundo. Sua preparação vai além da técnica: inclui aprimorar utensílios, buscar novos ingredientes e fortalecer sua espiritualidade. – A conquista me ensinou foco e disciplina. Trouxe para minha vida pessoal a busca pela evolução e pela vontade de ir além – conta.
Além de liderar equipes, Allan também inspira e ensina. Como instrutor na Goya Sushi School, compartilha experiências com jovens que, assim como ele, começaram sem muitas certezas, mas com determinação. – Um dos momentos mais gratificantes foi ver um aluno que comecei a orientar em 2023 agora liderando eventos e crescendo na profissão. Isso me enche de orgulho.
Apesar do reconhecimento, Allan mantém suas raízes. Crescido em uma região influenciada pela culinária italiana e alemã, ele entende que o sushi no Brasil é uma fusão que reflete a diversidade cultural do país.
– Na nossa região, as pessoas gostam de agridoce, geleias e crispy. Essa adaptação foi essencial para popularizar o sushi aqui, mas é importante respeitar as bases tradicionais – ressalta.

Com habilidade de equilibrar o tradicional e o contemporâneo, Allan levará ao Japão sua mescla de influências, garra e resiliência. – Representar o Brasil em Tóquio é um sonho. Desde o início do campeonato brasileiro, minha meta era chegar lá. Quero mostrar que, com trabalho duro e dedicação, todos podem conquistar grandes coisas.
Enquanto se prepara para o palco internacional, Allan mantém vivo o conselho de sua mãe e reflete sobre sua trajetória. – Se pudesse voltar no tempo, diria ao jovem que fui para buscar conhecimento com as pessoas certas e não se deixar influenciar por quem não agrega. Mas, no final, tudo valeu a pena.