Um homem de muitos planos e de passos bem planejados ocupa a sala onde são tomadas as principais decisões do Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, o maior hospital particular de Santa Maria e um dos maiores da região. Aos 78 anos, o advogado e desembargador aposentado Walter Jobim Neto não é apenas o provedor do hospital ou um dos membros FOTO: CELSO CAVALHEIRO do “Grupo dos 40”, que mantêm a instituição que está prestes a completar 120 anos. Jobim é uma referência. Consolidou seu nome ao ocupar o cargo em momentos críticos da instituição, entre 2009 e 2015, e, com sua habilidade nata, conseguiu negociar um futuro mais próspero para o hospital. Cirurgias robóticas, com um moderno robô recém-adquirido; a ideia de reformar o Pronto Socorro, o que deve ficar na casa dos R$ 3 milhões; e a maternidade, obra que não deve baixar de R$ 300 mil, são temas que ocupam o dia a dia da persona desta edição. Apesar de não ser médico, ele dedica-se, há bem mais de uma década, à instituição idealizada pelo Doutor Astrogildo de Azevedo.

Quem convive com Jobim no ambiente hospitalar, ou já teve a oportunidade de acompanhar sua atuação em júris e outros eventos jurídicos, mal pode imaginar que, hoje em dia, uma das tarefas que lhe traz mais felicidade não exige terno, muito menos gravata. É em uma fazenda, em São Pedro do Sul, onde ele se dedica à criação de gado. – Quando me aposentei, decidi voltar a Santa Maria para ajudar no escritório da nossa família e para auxiliar o meu pai na fazenda. Sempre gostei da atividade rural. Tudo começou nos tempos do meu avô, e nunca perdi aquele gosto. Vou para a fazenda pelo menos três vezes por semana e não tenho tempo para a lavoura, que é algo que exige o olho do dono ali, dia a dia. Crio gado, estou com um esquema muito especial com a Ruby Beef. A quem já comeu carne deles, eu sempre digo: talvez tenha sido de um dos meus terneiros – conta.

O LUGAR ONDE MORAM AS MEMÓRIAS

Da fazenda, que fica colada ao Rio Ibicuí, Walter Jobim Neto consegue enxergar as terras, em Dilermando de Aguiar, que, um dia, foram de seu avô e que passaram para o irmão dele, Nelson Jobim, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, 76 anos. Foi ali, naquela propriedade, que ele teve aquelas que considera algumas das melhores experiências da sua vida. Walter Jobim Neto é filho do deputado Hélvio Jobim e da dona de casa Namy Azevedo, ambos já falecidos. Ser o mais velho dos três filhos do casal já era uma grande responsabilidade, mas o peso de ser neto do ex-governador do Rio Grande do Sul, Walter Jobim, era ainda maior. – Quando comecei a estudar no Instituto Olavo Bilac, em 1951, fazia um ano que meu avô não era mais governador, mas alguns professores seguiam contrários a ele. Lembro que alguns dos meus colegas chegavam a cantarolar: “Walter Jobim come capim na casa do Seu Serafim” (risos). Tudo isso porque o meu avô tinha uma personalidade muito forte, uma visão política bem determinada e era opositor do governo de Getúlio Vargas – lembra. A influência do avô permeia a vida de nosso entrevistado. Tanto que, em um de seus principais discursos como provedor do Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, ele cita uma de suas frases: “Palavra dada, honra empenhada. Quem não cumpre com a sua palavra, não merece consideração de ninguém”. – O meu avô escreveu essa frase na Revolução de 1932, referindo-se ao interventor Flores da Cunha, que tinha se comprometido com Borges de Medeiros e com a Aliança Liberal a apoiar o candidato paulista, mas acabou apoiando Getúlio, que era adversário político de Borges de Medeiros e do meu avô. Depois da revolução, o meu avô chegou a ter os direitos políticos caçados. Ele foi preso, a mando de Flores da Cunha, lá na fazenda, algemado e mandado para Porto Alegre. Mas ele já tinha anistia e, ao chegar na capital, foi liberado – rememora. Porém, as melhores memórias sobre o avô que lhe deu o nome são outras. Elas dizem respeito, justamente, às lidas rurais na fazenda e às trocas de experiências com os mais velhos, que por lá aconteciam. – Ele foi para o Uruguai como embaixador até 1955 e só voltou ao país depois da morte do Getúlio. E, nesta época, quem administrava a fazenda da família, em Dilermando de Aguiar, era o meu pai. Então, quase todos os finais de semana, a gente ia para lá, e, quando o vô vinha de férias, ele ficava na fazenda também. Era delicioso conviver com os velhos. Naquela época, não existia energia elétrica lá, então eles deitavam quando anoitecia e levantavam quando amanhecia. Ele gostava de sentar conosco, de contar histórias, saíamos para o campo com ele - e isso era muito bom, porque ele tinha uma personalidade marcante. Lembro de uma vez, que estávamos eu e o Nelson, e ele nos perguntou: “e, então, o que há pelo mundo?”, porque ele ficava sem notícias lá na fazenda. A notícia da morte do Winston Churchill, por exemplo, lembro que fui eu que dei para ele – recorda. Entretanto, fazer parte de uma família com posses não trouxe muitas regalias para os irmãos Jobim. Walter, Nelson e Hélvio Filho (já falecido) foram criados com uma disciplina rígida, pouco dinheiro e muita responsabilidade.


O DIREITO - UMA HERANÇA FAMILIAR

O mundo do Direito foi praticamente uma herança familiar. Após se formar, em Porto Alegre, como era o desejo do seu pai, Jobim atuou no escritório da família, em Santa Maria; foi Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul; professor da Universidade Federal de Santa Maria; e Defensor Militar da União por 23 anos. – O meu retorno, em 1967, foi esperadíssimo pelo meu pai e pela minha mãe. Vim para cá, depois veio o Nelson. Ele ficou aqui até 1986. Quando se elegeu deputado, foi embora e não voltou mais. Eu sempre tive uma tendência para a área criminal. E gostava tanto, que, muitas vezes, trabalhei de graça. Lembro de um cliente que chegou me oferecendo a escritura de um terreno onde ele tinha uma casinha, ele tinha comprado aquela casa em trinta prestações anuais, então fiquei com pena e não cobrei. Trabalhei de graça, como fiz muitas vezes. E eu também gostava dos júris. Fiz muitos juris com o pai. Lembro de um, em especial, que, na defesa, estávamos o Adelmo Genro, eu, o Nelson e o Tarso Genro. Fomos cinco defensores - e vencemos o caso. No escritório, a sucessão para o filho Ricardo foi algo que aconteceu naturalmente. – Nunca houve nenhum tipo de atrito. O Ricardo assumiu, conseguiu fazer o escritório crescer, ter mais de 20 advogados e uma filial em Porto Alegre. Eu costumo brincar que sou um sócio sênior, porque só atendo quando é algum cliente mais antigo, que faz questão de falar comigo – explica.


UM ORGULHO CHAMADO FAMÍLIA

Por mais que esteja calejado dos júris, das decisões difíceis no hospital e do próprio peso de ter sucedido o pai e o avô, há um assunto que emociona Jobim: a família. Ele é um homem que se orgulha das bases sólidas construídas com a esposa, Berenice Munarski Jobim. Os dois são pais de Renata Jobim e Silva, dentista; Cristina Jobim Hollerbach, publicitária; Paula Jobim, diretora de cinema; e Ricardo Jobim, advogado e empresário. – Eu cursava Direito, e ela Arquitetura. Ela foi rainha dos jogos dos calouros. Quando eu estava no terceiro ano, estava metido na Federação dos Estudantes da UFRGS, e ela foi candidata à rainha - nos conhecemos e estamos juntos até hoje. Isso já faz 58 anos. Na nossa vida, tudo aconteceu muito rápido, com seis anos de casados, já estávamos com os quatro filhos nascidos. Jobim orgulha-se de a família já ter chegado a 19 pessoas - entre filhos, netos, bisneta e “agregados”.