Há pouco mais de duas décadas, quando decidiu trocar as salas de aula da faculdade de Medicina, em Santa Maria, pelas de Arquitetura, em São Leopoldo, Luiz Carlos Barbosa Filho - ou, como é mais conhecido, Zé Barbosa -, 45 anos, ainda não imaginava que o seu talento para a música, para a fotografia e para as artes encontrariam um novo espaço e se transformariam, também, em um olhar diferenciado no seu cenário profissional. Mais do que formas ou técnicas, 20 anos depois, ele pode se orgulhar de ter transformado suas paixões em suas principais marcas pessoais e profissionais. 



O filho único do ginecologista Luiz Carlos Russi Barbosa e da psiquiatra Mirian Barbosa cresceu acompanhando o trabalho do pai e da mãe - e sempre teve a ideia de ser médico. 

– Fiz o Ensino Médio no Marista Santa Maria, já com essa decisão, que, para mim, era algo bem natural. Passei já no primeiro vestibular para Medicina na Universidade Federal de Santa Maria, porém, no quinto semestre, não estava convicto com a faculdade escolhida, não estava feliz... e resolvi tentar um novo curso. Nesse momento, decidi fazer um intercâmbio, mas, antes de viajar, prestei vestibular para Arquitetura, na Unisinos, em Porto Alegre, e passei. Então, viajei para estudar inglês, sabendo que, quando voltasse, teria uma faculdade me esperando – conta Zé. 

Fazer uma troca como essa, obviamente, pegou a todos de surpresa. Entretanto, com o apoio necessário dos pais, para que pudesse seguir seu próprio caminho, ele conseguiu descobrir seu verdadeiro talento e desenvolver as suas habilidades, o que o levou a fundar um dos maiores escritórios de arquitetura do estado, o Lineastudio Arquiteturas, que já desenvolveu projetos em pelo menos 60 cidades. 


Se hoje Zé Barbosa defende que o planejamento e a gestão fazem a diferença, afinal de contas, no âmbito profissional especializou-se nos temas por meio de cursos e MBAs –, em sua vida pessoal, ele também soube dar passos muito sólidos. E foi em seus tempos de baixista de bandas com DNA santa-mariense, como a Pantera Cor de Rosa e a Agito Capilar, que ele conheceu a esposa, Verônica Viero, seu braço direito na vida e nos negócios. 

– Nos encontramos pela primeira vez em uma festa à fantasia, em que nenhum dos dois estava fantasiado (risos), num bar que foi bem famoso aqui na cidade, o Absinto. Foram uns oito meses até que ela me desse uma chance, mas valeu a pena a espera. Quando olho para tudo o que construímos juntos, fico realizado. A gente cresceu junto; amadureceu junto; construiu, lado a lado, a “vida adulta” – comemora. 

Hoje, o casal tem duas filhas, Maria Luiza, 7 anos, e Ana Helena, 1 ano e 6 meses, e busca conciliar os projetos sempre audaciosos da empresa com o crescimento da própria família. 

– A Vero é muito família, e eu sempre tive uma relação muito forte com meus pais. Logo que a gente começou a namorar, eu já senti que ela seria uma baita mãe. E, realmente, ela é uma super mãe, e é quem segura as pontas para podermos manter um negócio próspero, que abriu duas novas unidades e segue crescendo, enquanto as meninas também estão crescendo. Eu sempre fui muito workaholic, mas fui aprendendo mais a equilibrar. Algumas coisas não muito boas me serviram de alerta para isso, especialmente relacionadas à saúde. Hoje temos uma vida bem mais tranquila, muito mais perto das gurias.

Por mais que a rotina do casal seja agitada, principalmente depois da abertura das sedes em Passo Fundo e Porto Alegre, eles aprenderam a encontrar espaço para realizações, e um dos prazeres é viajar com as filhas e curtir as descobertas do mundo, desbravando-o desde cedo. 

– A gente se diverte muito com as meninas. Eu tive a oportunidade de viajar muito quando criança, porque o meu pai viajava bastante a trabalho. Como filho único, eu era o fotógrafo da família nas viagens, isso também me ajudou a conhecer o mundo. Foi o que me abriu os horizontes, o repertório, a forma de ver as coisas. Depois, adolescente, fiz intercâmbio, continuei conhecendo outros lugares. E, hoje, buscamos dar as mesmas oportunidades para as nossas filhas. Elas viajam com a gente desde bebês e, assim, estão criando o olhar delas para o mundo – afirma. 

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Olhar o currículo de Zé Barbosa é encontrar especializações como a em Arquitetura Comercial, na Unisinos; o MBA em Gestão Empresarial, na FGV; e o MBA em Gestão de Escritórios de Arquitetura, também na Unisinos. Isso sem contar as inúmeras edições de mostras de arquitetura, os prêmios e as obras com características inovadoras, criativas e disruptivas que fazem parte do seu portfólio. Mas é quando se fala com ele e seus olhos brilham diante do que faz, que verdadeiramente se tem ideia do quanto as palavras felicidade e realização fazem parte do seu cotidiano. 

– Cada vez mais, procuramos desmistificar o receio de que o peso do nome do escritório, da tradição, da tecnologia envolvida e da qualidade dos profissionais vá tornar o projeto muito oneroso para o cliente. Muitas pessoas pensam que só fazemos projetos grandes, o que não é verdade. Nós estamos abertos a todos os projetos, todos são bem-vindos e todos recebem todo o cuidado e a personalização que merecem. Faço questão de estar presente na elaboração de todos eles, gostamos de manter uma relação próxima com os clientes, porque a satisfação deles é o melhor retorno que podemos receber.


OS PRIMEIROS PASSOS NA ÁREA

Por mais que não venha de uma família de arquitetos, esse nunca foi um universo distante para Zé Barbosa. Além de seu avô ter tido uma incorporadora, seus pais construíram a casa que moram até hoje - e, na época, ele acompanhou de perto os detalhes da planta do novo lar dos Barbosa. 

– Eu gostava de olhar a planta, de acompanhar como o projeto se desenvolvia, era algo que me dava muito prazer. Mas eu não me via atuando profissionalmente na arquitetura. Hoje, não consigo me imaginar longe dela – comenta. 

Desde os primeiros passos, ainda na faculdade, Zé já mostrava que tinha vontade de quebrar padrões. Em seu projeto de graduação, desenvolveu uma escola de música, fazendo um paralelo que mostrava como, tanto na música quanto na arquitetura, é preciso trabalhar com a emoção e com a razão.

– Eu sempre gostei de matemática e física, o que, na nossa área, é bem importante, mas a música sempre me ajudou a despertar mais o lado criativo. Essa questão da arte sempre foi muito forte para mim. Além de ser o fotógrafo oficial da família, depois, aprendi sobre fotografia profissional, isso também me trouxe um olhar especial para os projetos que desenvolvo.

Quem não acompanhou o início da carreira de Zé Barbosa talvez não saiba, mas, lá no começo, o seu primeiro escritório não tinha o mesmo nome do atual. 

– Me formei em janeiro e trabalhei em um escritório até abril, quando percebi que Santa Maria tinha espaço para a arquitetura contemporânea. Então, aluguei uma sala na Torre Ribas, ao lado do Santa Maria Shopping, para abrir um escritório com meu próprio nome: Zé Barbosa Arquitetos. 

Segundo o arquiteto, a ideia de mudar para um nome comercial só surgiu após um dos MBAs que ele fez. Embora seja muito comum o escritório carregar o nome do seu fundador, naquela época Zé teve a oportunidade de refletir sobre:

– Entendi que, com um nome comercial, criaria-se uma marca mais forte e que fortaleceria todos os profissionais que estivessem associados à empresa, que me acompanhassem nesse caminho. Chegamos com uma linguagem disruptiva, quebrando paradigmas – e isso era um retorno também para a cidade, pela qual eu tenho grande carinho. Hoje, termos o Lineastudio Arquiteturas como uma marca consolidada, reconhecida e com o respeito pelos valores que representa é uma realização e tanto, não só para mim, mas para todos os arquitetos associados. 

O nascimento oficial da empresa como Lineastudio Arquiteturas – assim mesmo, no plural, indicando que eles atuavam em diversas áreas – veio junto com a mudança de endereço do escritório para a Avenida Dores, onde começaram a se formar os primeiros estagiários, que permaneceram na empresa como arquitetos.  

– Essa preocupação em valorizar talentos é algo bem marcante para nós, e é um dos motivos que nos faz permanecer em Santa Maria. Há grandes escritórios no mundo que têm sua sede na sua cidade original, e sempre achei isso inspirador. Santa Maria tem as faculdades de arquitetura, que nos oportunizam captar talentos, a maioria dos sócios é daqui, o espaço que temos, desde 2015, no bairro Cerrito, com a qualidade, em meio à natureza, seria impossível em um grande centro. Por isso, por mais que tenhamos escritórios em Porto Alegre e em Passo Fundo, não pensamos em mudar a nossa sede principal. No entanto, já expandimos nossas atividades para Santa Catarina, Paraná, Distrito Federal, São Paulo e Minas. O nosso trabalho independe da localização geográfica. 



O ENVOLVIMENTO COM OS PROJETOS É CONSTANTE

Como escrevemos no início do texto, a nossa Persona teve de tomar decisões bem sólidas ao longo da sua trajetória. 

– Teve um período da vida que estava tocando nas bandas, viajando direto a trabalho, dando aula na Ulbra e, ainda, tinha o escritório para gerir. Mas, aos poucos, precisei ir me desligando de algumas coisas. Por mais que eu gostasse e fosse feliz com aquilo, as bandas foram as primeiras delas - e foi difícil, porque eu tocava desde os meus 12 anos. 

Hoje, depois de conhecer alguns dos maiores profissionais do seu ramo de atuação, além de renomados escritórios no mundo inteiro, Zé Barbosa pode dizer, com propriedade, que um arquiteto que funda um empreendimento como o seu não dá apenas o seu nome a esse espaço. Ele está presente nas principais decisões, e também faz questão de estar envolvido em cada projeto.

– Durante a metade desses 20 anos de Linea, dediquei-me somente ao negócio. Sempre tive muito forte essa visão empresarial de construir uma reputação, tornar a empresa confiável, transparente, mostrar que ela busca superar as expectativas, por mais altas que sejam, mas também sempre fiz questão de que ela se mantivesse atual, com uma equipe inquieta, que busca as inovações no mundo todo para trazer para cá e que aposta em processos. Isso é muito importante, porque a bagagem que temos ajuda a reduzir erros. O investimento em tecnologia, que sempre fizemos, ajuda o cliente a economizar no final do projeto. Quando começou a tecnologia 3D, por exemplo, importamos óculos de realidade virtual – há sete anos, todos os projetos são apresentados com eles. Há oito anos, a tecnologia BIM, base da transformação digital no setor de arquitetura, engenharia e construção, dá-nos muito controle sobre o projeto, e os resultados são a satisfação e a economia para o cliente. 

Com o mesmo orgulho que fala sobre o talento de Maria Luiza para o desenho e que exibe as fotos das duas filhas em grandes mostras que participa anualmente, como a CASACOR RS, Zé Barbosa comemora ao ver seu empreendimento crescendo a passos sólidos e consistentes. 

– É um projeto de uma vida, e posso dizer que sou imensamente feliz com tudo isso que faço. A criação, a gestão e a realização do cliente não só me motivam, mas também me fazem olhar para tudo isso e pensar como tudo vale a pena.