Se pudesse, eu o levaria junto nas minhas viagens, no forro da bagagem. Cada hotel é um encosto diferente e uma insônia nova. Demoro a me adaptar. Não adianta socar o apoio forasteiro que ele não diminui. Talvez até aumente de tamanho com a minha violência. A sensação é que ele é vingativo e me revida os golpes quando estou dormindo. Acredito que o travesseiro é parte da minha cabeça. São os cabelos que não tenho mais, os cachos que perdi com o tempo.

O travesseiro certo é um ansiolítico. Uma canção de ninar. Um incentivo para os sonhos. Um capacete contra a enxaqueca e os problemas profissionais. Uma redoma para salvaguardar os pensamentos mais puros e proteger a esperança. Toda mulher grávida sabe da importância dele na raiz da árvore genealógica. Com o avançar da gestação, vai agregando mais integrantes para o seu repertório noturno.

 Eles se multiplicam na cama como almofadas no sofá. É formado um exército de defensores, de leões de chácara, de seguranças da sua saúde. Do travesseiro individual e solitário de solteira, passa logo para a companhia de meia dúzia. Haverá três para o amparo das costas, um entre as pernas e dois para levantar os pés inchados. Cria uma trincheira de plumas. Nem mais enxerga o marido ao lado. Ele tem a impressão de que os lençóis do quarto são agora os maranhenses. Caminha em dunas enquanto descansa com a sua mulher. É um sobe e desce que impede a invasão do território.

 Não tem mais autorização para se deitar de conchinha ou licença para se estirar com os braços pelo dorso feminino como antes. O travesseiro é a melhor madrugada da grávida, o chá mais eficaz, o amigo mais leal, já que é feito de silêncio, colo e cumplicidade. Corresponde a um alívio, a um amortecedor da barriga, a um escudo para não se machucar e não sofrer com a própria fragilidade. É também um GPS de plumas para achar uma posição para dormir. Ele passa a ser uma necessidade para moderar os enjoos e aquietar tonturas. A guerra de fronhas da infância encontra a paz na vida de gestante.

É uma trégua do arremesso e das batalhas de penas. Que só recomeçarão quando a criança crescer, dar cambalhotas e tramar o que pode fazer de travessura com tantos travesseiros à toa na cama de casal. Para se ter um filho, é necessário antes formar uma família de travesseiros.