Definitivamente, a chanel, minha cachorrinha, precisava de um banho. Dei jeito para encaixar na agenda corrida do dia.

Chamei no Whatsapp e, prontamente, a pet shop respondeu. Bendita tecnologia! Quando o horário se aproximou, me afastei do computador em um pulo, lancei as pantufas longe e calcei os tênis em um exercício de enfiar os pés, com os cadarços amarrados previamente. Puxei um casacão do armário e coloquei por cima da roupa de academia mesmo – que vesti de manhã cedo, para não dar desculpa e malhar em alguma brecha. Essa técnica funciona, eu garanto.

Guardei a chave e a carteira em uma bolsa, que já deixo semipreparada no cabideiro próximo à porta de entrada da casa. Me posicionei à frente do elevador, ansiosa, moro no 13º andar, ele estava parado no -2. MENOS DOIS. Aproveitei para responder a algumas mensagens e verificar minha caixa de entrada do Instagram. Digita, digita. Manda áudio. Entrei no elevador. Não para, não para... parou no 4º andar. Olá, bom dia! E o tempo, hein? Desci no hall. De longe, cumprimentei o zelador enquanto apontava a chave em direção ao carro, otimizando o destrave das portas. Não importa o nível do atraso, meu veículo só sai da garagem depois da escolha da música perfeita. É como se a ignição não pudesse ser acionada, sabe? Falta gás, não gasolina.

Escolhi a playlist “Mix Feliz”, que era para me animar de uma vez, e o modo aleatório acionou um “Dancing Queen”, do ABBA. Não era esse o clima. Passei uma, duas, três, cheguei em “How Will I Know”, da Whitney Houston. Essa, sim! Aumentei o volume e voltei para o celular, catando o aplicativo do Waze, virei uma verdadeira dependente desse troço. Minha memória falha ao tentar resgatar a vida sem a voz da “dona GPS”, me sugerindo para dobrar à direita a 200 metros. Digitei o endereço, encontrei, acionei a rota. Sete minutinhos até o destino. Ufa, nem é muito! Liguei o carro e fui controlado o trajeto, a trilha sonora, a temperatura no marcador de rua, os semáforos. Fechou o sinal. Aproveitei para checar os e-mails. Tomei buzina. Opa, desculpa, levanto a mão acenando. Ultrapassei um, espiei o relógio no painel do carro, acelerei. Chego à pet shop. Estaciono logo de uma manobra só. Que sorte, era oblíquo. Li, dia desses, que pessoas de baixa estatura têm mais dificuldades na baliza, não sei se a fonte é segura, mas eu entro fácil nessa estatística.

Penduro a bolsa no ombro, agarro o celular, que há pouco apitava insistente, e caminho imersa ao aparelho, de cabeça baixa, até a porta automática do estabelecimento. Vou direto para a recepção. “Olá, a Chanel tem horário marcado”. Deparo com um misto de silêncio e olhares confusos. Em um suspiro, reconheço: esqueci a cachorra em casa. Maldita tecnologia.

Obs: Ligo a uma amiga para dividir a situação, ela rebate: “tudo bem, guria, eu passei perfume no sovaco hoje, pensando que era desodorante”.  É, tá todo mundo doido.