Ao despendermos tempo dividindo problemas, rindo das alegrias e dos fracassos da vida e abrindo espaço para um conselho ou outro – quando cabia –, entendemos que o mundo está em falta de amizades empáticas. Amizades conectadas ao hábito de tirar o sapato para subir os pés no sofá e se acomodar em pernas de índio para horas de troca ao estilo “eu paro e te escuto”, agora “você para e me escuta”. Bate-papo com acolhimento e busca por entender o lugar do outro.

 “Querida, vá à psicóloga”, você deve estar pensando, “é assim que elas atuam: sentadas em uma poltrona escutando”. Bom, basta afirmar que minha amiga e eu somos altamente analisadas. Não é este o ponto. É sobre proporcionar um ambiente informal, não profissional, sem hora marcada e tempo limitado para terminar o desabafo. Afeto com conexão. Vou contextualizar: há um tempo, essa amiga passou por um problema pessoal importante e incomum à maioria das pessoas. Por ser uma situação peculiar e delicada, que envolvia uma história familiar, escolheu cirurgicamente as relações para confiar o caso.

A ideia era se sentir leve, ter com quem compartilhar os desdobres da questão vez ou outra e seguir, na prática, a tal “cura pela fala” do Freud, sem precisar passar pelo constrangimento do relógio tiquetaqueando em algum lugar invisível da sala. Um bom amigo ocuparia essa brecha. Então, reparou o que eu também já havia observado: as reações dos ouvintes eram basicamente as mesmas – todas consequentes ao desconforto. A primeira era fazer uma série de perguntas sobre o tema e, depois de suprida a curiosidade acerca do desconhecido, cair em desinteresse imediato pelo resto, com desconexão ao sentimento de quem desabafava.

A outra era interromper o discurso, com exemplos particulares ou de conhecidos, surrupiando o lugar de fala. Por fim, e, no meu olhar, a mais dura, era apresentar uma solução imediata: “Já tentou isso?”, “Que tal aquilo?”. Considero o último reflexo o mais embaraçoso porque entendo a ansiedade do receptor em parecer útil, mas há um “não exercício” em relação à obviedade da situação de luta do emissor da mensagem. Nesse caso, eu tenho uma outra amiga que se sai muito bem. Após escutar uma história significativa, ela costuma perguntar: “você quer ouvir o que eu acho ou tenho para dizer?”. Isso se chama inteligência emocional.

A sensação de “ninguém me escuta” é de uma solidão nociva. E quanto mais difícil o tema, mais repelidas as pessoas são – a exemplo do luto e o clássico “ah, mas esse assunto é tão pesado, você não quer falar sobre, né?”. Com a falta de bons ouvintes e da escuta ativa trabalhada na nossa sociedade, menos à vontade ficamos para partilhar nossas dores, menos vínculos fortes se criam, e almas mais carregadas circulam por aí. Corremos o risco de que o mundo se torne um lugar de engasgados.