As equipes médicas que trabalham com a angioplastia coronariana sempre tiveram um inimigo muito poderoso: o cálcio. Isso porque, quando a calcificação é muito intensa, a coronária perde a elasticidade, impossibilitando que os stents – aqueles tubos expansíveis utilizados para restaurar o fluxo sanguíneo na artéria e trazer um ritmo quase normal ao coração – sejam colocados adequadamente ou que sejam expandidos como é necessário.

Mas, uma nova tecnologia está mudando essa realidade. Trata-se do Shockwave, um aparelho com moderna tecnologia para desobstrução de artérias coronárias calcificadas. No Brasil, a apresentação oficial da técnica à comunidade médica foi durante o Congresso Brasileiro de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, realizado em Belo Horizonte em julho de 2022. E a tecnologia já chegou a Santa Maria, onde o primeiro procedimento desse tipo foi realizado em 13 de dezembro pelo médico Romualdo Bolzani dos Santos e sua equipe no Hemocor Cardiologia Intervencionista no Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, tornando-os pioneiros na região. 

–  Nas últimas décadas, praticamente não tivemos avanços nessa área. Mas, desde 2018, vem sendo aplicada uma técnica na Europa, a litotripsia intravascular, que utiliza o mesmo princípio daqueles equipamentos que quebram cálculos nos rins para desobstruir as artérias coronarianas e, assim, restabelecer a passagem do sangue pelos vasos sanguíneos. Só que a grande questão dessa nova tecnologia foi miniaturizar esse equipamento, tornar ele tão pequeno que possa ser colocado no interior da coronária, para facilitar a fragmentação do cálcio, torná-la elástica e permitir o correto implante do stent e ter uma boa recuperação do vaso – explica o cardiologista. 

A litotripsia intravascular começou a ser usada na Europa há quatro anos e, atualmente, já foram realizados mais de 90 mil procedimentos em 64 países. Em 2018, quando os estudos tinham começado, Romualdo chegou a acompanhar esses primeiros passos da tecnologia em uma viagem internacional. 

–  Naquela época, viajei à Europa para participar de outro curso, e vi a aplicação do método, mas ainda era algo experimental, havia um certo ceticismo. Mas, nos últimos anos, houve estudos internacionais importantes, que foram publicados sobre o tema. Daí em diante começamos a acompanhar progressivamente a técnica, até que no meio do ano, quando se vislumbrou a possibilidade do lançamento no Brasil, foi quando começamos a buscar novamente informações. Uma das grandes vantagens que vejo desse método é a facilidade no seu emprego, para operadores experientes, que estão acostumados com o emprego do stent, ele é uma técnica simples de usar. Envolve tecnologia, envolve processos bastante sofisticados, mas a aplicação no paciente é simples para quem está acostumado com intervenções coronarianas – afirma Romualdo. 


Na área da cardiologia intervencionista, no que diz respeito ao tratamento de coronárias, depois do stent farmacológico, esse está sendo considerado o principal avanço e também aquele que mais tem movimentado especialistas de todo o país.

–  Essa tecnologia se soma a outros recursos dos quais dispomos, como métodos adjuntos de imagens, tomografia de coerência óptica, ultra som intravascular, ajuda na identificação, planejamento e tratamento dos pacientes. Aumentando a nossa precisão no tratamento, todos saem ganhando – diz o cardiologista. 

Os pacientes que serão encaminhados para esse tipo de procedimento são aqueles que fazem cateterismo cardíaco, motivado por sintomas, como dor no peito, que durante a investigação são identificadas obstruções nas artérias coronárias, e que após o cateterismo existe possibilidade de tratamento por stent. 

Além do pioneirismo nos procedimentos com Shockwave na região, a equipe do Hemocor tem se destacado também por outras questões importantes, com objetivos para ganhar ainda mais relevância em 2023.

– Foi um ano excepcional para a nossa equipe, no qual investimos muito na questão educacional. Recentemente, fizemos um curso em Londres, que abriu uma série de ideias para o ano que vem e nós queremos consolidar essa busca por tecnologia, novas terapias, segurança nos tratamentos e tornar os tratamentos cada vez mais humanizados – planeja Romualdo. 



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