Depois de dois anos de muita pesquisa, o escritor porto-alegrense Luis Henrique Rocha está lançando um livro que, além de muito trabalho, carrega o carinho pela cultura italiana. Tanto que o primeiro volume da “Coleção Lavoro Italiano”, que trata do tema dos transportes, não está sendo lançado somente no Rio Grande do Sul, mas também na Itália, nas cidades de Vicenza, Veneza, Verona, Treviso e Belluno.
Na obra “Os imigrantes, o transporte e o progresso”, que tem apresentação do Ministério da Cultura brasileiro, o escritortrata da história da imigração italiana e a sua contribuição
com o progresso do Brasil através do transporte. Em mais de 300 páginas ricamente ilustradas, é possível acompanhar as histórias desde a abertura das picadas abertas na mata, até a construção das rodovias, dos cargueiros de mulas, até as grandes transportadoras, estaleiros, dirigíveis, fábricas de ônibus e implementos.

  
– É um passeio pela história do transporte, com o sotaque italiano em cada
página e o trabalho presente em cada linha. Os italianos que trabalharam por
aqui foram muito solitários, foram “profissionais do volante”, que construíram
empresas, abriram estradas, construíram ferrovias, fizeram pontes, deram início 

à aviação, envolveram-se com a navegação. Enfim, é uma obra que

narra a história de como os imigrantes superaram as dificuldades com muito
trabalho, persistência e fé em dias melhores, construindo uma das maiores
redes de transporte e logística de todo o Brasil – conta Rocha.
A Coleção Lavoro Italiano - O trabalho superando a dificuldade,
uma constante na história da imigração, da qual esse primeiro
volume faz parte, dará destaque a diferentes áreas de atuação
dos imigrantes, entre elas o transporte, a madeira e o móvel, a
vitivinicultura, a agricultura familiar, a indústria de alimentos e a
indústria metal mecânica.

 

– O lançamento na Itália vai ser juntamente com a trilogia dos 150 Anos da
Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, um projeto patrocinado pela Regione
Veneta, viabilizado através do Comvers - Comitato Vêneto no Rio Grande do
Sul. Ele acontecerá de 12 a 24 de outubro, nas sete províncias do Vêneto,
e contará, inclusive, com acompanhamento do grupo musical Girotondo, de
Caxias do Sul, que interpretará músicas do folclore italiano do Rio Grande do
Sul, para abrilhantar os eventos – conta.


– Me dei conta de que a maioria dos livros se reportam a um lugar da Itália, de
onde vieram os imigrantes, ou onde eles chegaram. Além, é claro, das histórias das
famílias. Mas a imigração, em toda a história da humanidade, de todos os povos,
tem um ponto em comum: o imigrante, chegando no seu destino, tem de começar a
trabalhar. No caso dos primeiros italianos vindos ao Rio Grande do Sul, além de todas
as dificuldades, existia um componente extra. A Itália tinha sido unificada há poucos
anos, não se pode dizer que eles eram “o mesmo povo”. Massimo D’Azeglio, um
piemontês, disse, sobre a unificação, que “fizemos a Itália; agora precisamos fazer
os italianos”. No Brasil, todas as diferenças tiveram de ficar de lado, pois era preciso
a união de todos para derrubar a mata, construir casas, estradas... havia tudo para
ser feito, e era preciso que todos trabalhassem juntos – afirma.

 
Foram cerca de dois anos de pesquisa, que renderam ainda mais histórias, devido a uma colaboração bem importante. O pesquisador Floriano Molon cedeu ao autor toda a pesquisa que ele já tinha iniciado sobre esse tema. Além disso, Rocha contou com alguns autores convidados para temas especiais, como Maria Stefani Dalcin, que também foi a produtora cultural da publicação. Ela escreve um capítulo sobre ferrovias. Da Região Central, as autoras convidadas foram Catia Dalmolin e Marilice
Daronco. Uma das histórias com DNA santa-mariense presente na obra é a da família Fração e da Expresso Mercúrio.

 
– Uma coisa bacana nessas histórias é que são pessoas simples, que, baseadas
apenas na sua capacidade de trabalho, construíram grandes empresas. No livro,
temos Raul Randon, da Randoncorp; Paulo Bellini, da Marcopolo; e Irani Bertolini,
do Grupo Bertolini - para citar apenas três das maiores empresas do Rio Grande
do Sul. Hercílio Randon, irmão do Raul e fundador da Randon, trabalhava de graça.
A Marcopolo fazia ônibus por tentativa e erro. Irani Bertolini era caminhoneiro. Mas
não são só histórias de empresas. Eram homens e mulheres fantásticos. Sr. Avelino
Zanetti, por exemplo, negou-se, mesmo com um fuzil literalmente encostado no seu
rosto, a mandar os passageiros descerem, para o exército levar seu ônibus. Mas acho
que nada supera o papel das mulheres na história do transporte. Eram heroínas: os
homens “desapareciam” por meses, elas cuidavam dos filhos, da casa, tinham de
plantar, muitas vezes trabalhar para complementar a renda... acho que são elas a
parte forte da imigração – destaca.

 
Experiência para contar uma história tão densa não falta ao autor, quecomeçou muito cedo na área. Após trabalhar em um jornal do interior,
com 17 anos, Rocha já havia montado uma editora em Bento Gonçalves, onde publicou a sua primeira revista. Logo depois, foi trabalhar na
Pallotti, em Porto Alegre, onde trabalhou na edição de milhares de livros.Além de ter sido organizador e produtor da trilogia “150 Anos daImigração Italiana no Rio Grande do Sul”, em 2023, Rocha lançou olivro de sua autoria sobre os 20 anos da Câmara Internacional da Indústria de Transportes, na sede da Organização das Nações Unidas – ONU, durante a 36ª Assembleia da entidade, em Nova Iorque. Em 2024, deve ser lançado o segundo volume da coleção Lavoro Italiano, sobre os imigrantes, a madeira e o móvel.