Em uma famosa canção, Marisa monte, não por acaso, uma das cantoras prediletas da médica Alethea Zago, 44 anos, solta a voz cantando: “o que importa se o pneu furou? O que importa é se vai decolar. O que importa se escorregou? O que importa é se levantar. O que importa se a noite esfriou? O que importa é saber amar”. É assim, com uma pitada de música, grandes doses de ciência, um punhado de perseverança e com uma medida generosa de amor em tudo o que faz que Alethea construiu uma sólida carreira como médica hematologista. Já são 21 anos de atuação, com conquistas importantes para si e para a comunidade de santa maria.

Começar a contar a história de Alethea a partir das artes é essencial, afinal, ela é como um elo que une as diferentes fases da sua trajetória. Aos 2 anos, já fazia aulas de Balé, e a vontade de ser bailarina só deu espaço a outro sonho que trazia desde menina, o de ser médica.

— O meu padrinho é médico em Caçapava do Sul, e me deu uma daquelas "maletinhas" de médico do Mickey. Então, eu tinha consultório, fazia injeção num urso que estava com dor, fazia tala, porque ele tinha quebrado o braço – lembra. O que o dindo Paulo Sérgio Nicola não poderia imaginar ainda é que a afilhada um dia faria residência em Clínica Médica, residência em Hematologia e Hemoterapia pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre, seria mestre em epidemiologia na UFPEL e doutora em Saúde e Comportamento pela Universidade Católica de Pelotas.

A vinda para Santa Maria se deu em 2015, quando ela conseguiu uma transferência para acompanhar o ex-marido, que também é médico. Alethea tornou- se médica da Universidade Federal de Santa Maria e no Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo. Atualmente, ela é professora titular em Hematologia na UFSM e preceptora do programa de residência médica em Hematologia do HUSM.

O que não cabe no lattes é que é uma exímia dançarina, também faz aulas de canto, e Marisa Monte, obviamente, nunca fica de fora do repertório. Talvez os pacientes da doutora Alethea até não saibam, mas não é só no consultório que ela arrasa, ela também é a rainha dos Karaokes.

Nascida em Caçapava do Sul, Alethea morou por lá pouco tempo. Quando ela tinha só cinco meses, os pais, Luiz Ari e Antonia Zago se mudaram para Bagé, onde seu avô paterno, seu Adelino Zago, tinha um engenho de arroz. Ela cresceu muito ligada ao avô e considera o fato de ele ter tido Leucemia um dos motivos que fizeram com que escolhesse a área de hematologia.

– No último ano da faculdade, eu ainda não estava bem decidida sobre a área que queria seguir. Mas o primeiro estágio que fiz na residência em Clínica, foi em Hemato, e eu me apaixonei naquele momento. Meu avô teve leucemia, e inclusive se tratou em Santa Maria, então isso também me influenciou, porque eu era muito ligada a ele. Mas também tive um exemplo de uma excelente professora, a Tânia, e também tinha um conjunto de fatores que me fez gostar e querer seguir na área – conta.

Não é nem preciso dizer que a vida de Alethea é bem agitada. O celular toca o dia todo e as mensagens de WhatsApp só não são respondidas em um momento do dia: quando ela e o filho, Gustavo Zago Unfried, 6 anos, fazem aulas de música, ela de canto, e ele de teclado.

Além da profissão e da música, algo que a faz feliz são as viagens. Ela costuma participar de congressos e cursos todos os anos. Em 2022 esteve no congresso na Mayo Clinic, em Minnesota, nos Estados Unidos, em janeiro, em março participou do Congresso Francês de Hematologia, e quando conversamos estava prestes a embarcar para o Congresso Americano de Hematologia, novamente nos Estados Unidos.

— Me sinto muito realizada com o que tenho hoje. Eu sou apaixonada pela minha profissão. Além disso, é muito satisfatório ver a evolução dos residentes que eu acompanho, interpretando corretamente os exames, e até mesmo escolhendo a hematologia para seguir carreira — explica Aletheia.

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UMA ÁREA QUE EXIGE PREPARO E SENSIBILIDADE

A área em que a médica trabalha exige não só muito preparo, mas também sensibilidade para estar perto de pessoas que vivem momentos difíceis, como o do diagnóstico da leucemia ou mesmo de que não há mais tratamento possível para uma doença.

– Eu tive uma base muito boa na faculdade. Em Pelotas, a faculdade nos prepara muito do ponto de vista psicológico para aquilo que teremos de lidar nas nossas atividades profissionais. Então, saí com uma base boa para lidar com esses enfrentamentos: a dor, a perda, a morte, a ansiedade das pessoas e das famílias pelas doenças. Ao longo da vida também convivi com pessoas que me ensinaram muito sobre isso, tanto colegas quanto professores. Mas, ainda assim, é difícil dar um diagnóstico de algo ruim para um paciente jovem. Isso me toca muito. E também a questão de quando a gente tem que ofertar conforto porquê do ponto de vista terapêutico está limitado e não há mais o que fazer – afirma.

Para ela, nessas horas é preciso receitar o melhor tratamento que um médico pode fornecer: dar o melhor de si.

– Nessas horas, procuro oferecer algo que tenha resultado, nem que seja um ombro amigo ao paciente que precisa de atenção e afeto, porque são doenças difíceis. Nem sempre o melhor tratamento existe ou está disponível, mas me sinto plena quando consigo ajudar de alguma forma. Também nem sempre o paciente tem condições clínicas de fazer o melhor tratamento, mas poder oferecer um gesto, um amparo – diz.

Alethea é uma médica com postura firme, uma cientista dedicada e uma mulher que tomou decisões importantes sobre o rumo da sua vida desde cedo, praticamente desde que recebeu a tal "maletinha" médica. As palavras doces sobre trazer conforto ao paciente mostram que os acordes da sua vida nunca perderam a sensibilidade, seja para a música, seja para buscar um pouco mais de qualidade de vida para seus pacientes.