A primeira vez que o publicitário santa-mariense Armando Ribas Neto apareceu em uma revista de circulação nacional foi em 1983, quando, aos 10 anos, foi um dos vencedores de um concurso que mobilizou o país em busca de jovens desenhistas. O prêmio que ganhou, um mini bug, fez sucesso na cidade. Quatro décadas depois, Armandinho, como é mais conhecido, virou assunto novamente em todo o país – dessa vez, o motivo é o seu livro, “Marvin Grinn e A Chave Mestra”, primeiro de uma série pela editora Vitrola, que, nas duas primeiras semanas de lançamento, já apareceu no ranking de mais vendidos entre os infanto-juvenis no Brasil

Regada a realismo fantástico, a série conta sobre coisas que acontecem nesse mundo, a partir da história central do jovem bruxo Marvin, que, aos 13 anos, descobre o universo fantástico. Em meio às histórias, qualquer semelhança com a Porto Alegre para onde Armandinho viajava quando tinha essa mesma idade, e também com Santa Maria, não é mera coincidência. – São histórias dos anos 80, porque eu queria o meu olhar com aquela idade – adianta. A história da saga de Marvin ainda vai dar muito o que falar. Mas, dessa vez, o mergulho que a Persona faz é no universo do autor, um publicitário tão apaixonado por sua terra natal, que, mesmo quando outras oportunidades bateram à porta, decidiu fixar raízes por aqui.

– Desde cedo, eu sabia que ficaria aqui. Dizia para o meu melhor amigo de infância que precisavamos ficar aqui para tentar fazer algo que fizesse a diferença, como os nossos pais, nossos avós, e até os nossos bisavós fizeram. Em função da publicidade, tive uma passagem por São Paulo, estagiando na W/Brasil, quando ela era uma das maiores agências do cenário nacional e até mundial; e tive um convite para ficar trabalhando lá. Naquela época, 1994, tinha uma fila de espera de quase duas mil pessoas para a vaga que abri mão para voltar para Santa Maria. Eu queria me tornar alguém na minha profissão a partir do lugar onde decidi viver, por querer me manter próximo da minha família e dos meus amigos. Hoje, trinta anos depois, posso dizer que não me arrependi nenhum segundo, dessa decisão – conta. Quem vê Armandinho liderando sua empresa, a Pubblicità, que completa três décadas em 19 de julho e que atende contas de clientes de porte nacional e estadual, nem imagina que ele vem de um universo bem diferente. – Minha origem é do meio rural, me criei em uma fazenda, na região do Arenal. Estudava no Colégio Santa Maria pela manhã e, à tarde, eu e meus irmãos, ajudávamos meu pai na fazenda. Nós criamos gado Devon. Então, eu aprendi cedo a conhecer esse universo – e isso me ajudou muito, porque, como desenhava bem, aos 15 anos, tive minha primeira oportunidade profissional, criando o comercial de televisão e as peças publicitárias do Remate da Cabanha Saudade, de amigos dos meus pais. Deu tão certo que mantenho a conta deles até hoje, além de ter outras cabanhas também contratando o meu trabalho. Foi assim que nasceu a Pubblicità – recorda. Assim como quem constrói a história de um personagem, Armandinho traçou metas e desafios para si próprio de uma maneira bem peculiar. – Sempre organizei a minha vida em decênios. Quando abri a agência, coloquei metas profissionais e pessoais para mim, pontos que gostaria de atingir, todos eles factíveis, com pontos para atingir de um a 10 anos. Quando vi que isso funcionou bem, fiz o mesmo para os 20 e para os 30 anos. Isso me permitiu realizar muitas coisas que queria. Por exemplo, chegar aos 20 anos da empresa, em 2013, com uma sede própria, construída dentro de uma área de 50 mil m2 , em meio à natureza. Se “Marvin Grinn e A Chave Mestra” é o motivo que faz com que, atualmente, o escritor esteja sorrindo à toa, por muito tempo foi a publicidade que fez os olhos de Armandinho brilharem mais. E não poderia ser diferente, afinal, como ele mesmo define, é um homem de ideias, ou, melhor dizendo, de ideias que podem ser realizadas. – Por mais de uma vez, pelas dificuldades em ser o criativo do negócio e o dono da agência, repensei minha carreira. Pois ser criativo é, justamente, ser livre e solto, enquanto gerir uma empresa, precisa também ter os pés no chão, e muita coisa que não aprendemos na nossa profissão. E eu precisei criar uma “chave” para lidar entre essas duas “personas” da minha vida. Hoje, o empresário Armando Ribas Neto é alguém que aprendeu a constituir e manter sólida, uma empresa que chega aos seus 30 anos, construindo por mim mesmo, por meio da publicidade, meu próprio patrimônio. Isso exigiu que me tornasse mais organizado e disciplinado. Mas sem nunca abandonar meu lado criativo. Só aprendi a não misturar os dois – explica.

Já faz tempo que Armandinho descobriu que produz melhor pela manhã. Desde então, começou a acordar cedo, por volta das 6h, e a reservar um tempo para o seu esporte predileto, a natação. – Quando acordo, as ideias já começam a querer pular para fora da minha cabeça – diverte-se. Criativo por natureza, Armandinho é ilustrador e já foi premiado tanto com seus desenhos, quanto com suas crônicas. – Eu gosto de contar histórias, curtas, rápidas e com impacto. E isso é ser publicitário, mas é também o que serve como a técnica para as construções dos enredos nos meus livros. Acima de tudo, o que me realiza é ter ideias e poder fazê-las sair do papel, de alguma forma. A leitura e a escrita sempre estiveram muito presentes no seu universo. – Enquanto o dom de desenhar, devo à minha mãe. O hábito da leitura, devo, especialmente, ao meu pai. Tive nas mãos tudo de melhor e de mais variado em literatura – dos clássicos aos modernos. Foi com isso que fui moldando um certo estilo próprio. Hoje sinto-me confortável com a minha maneira de escrever, fruto da observação dos de estilos diversos autores especiais – conta. As influências são sólidas: “Os Três Mosqueteiros”, “Nárnia”, “Harry Potter” e as séries de ficção histórica de Bernard Cornwell, além da fantasia cinematográfica de dois mestres em contar histórias de realismo fantástico: Steven Spielberg e Chris Columbus. – O filme “Enigma da Pirâmide” está entre os preferidos dos que já assisti. E cito o cinema porque, as pessoas que lêem meus livros, relatam que escrevo quase como um roteiro de filme. Isso é muito verdade, pois procuro dar ao leitor o máximo em descrições e ambientações, para que ele se sinta tão dentro da história, como eu faço, ao escrever. Isso trago da minha profissão, e também do que gosto de encontrar em uma boa história – afirma Armandinho. Em um determinado ponto da história de “Marvin Grinn e A Chave Mestra”, o personagem Senhor Gentil, ao encontrar com o protagonista, explica ao garoto que “magia é algo verdadeiro e absolutamente real. É como um dom que se manifesta apenas em determinadas pessoas. Só com muito estudo e aprimoramento conferem a habilidade de controlar esse poder e usá-lo de forma adequada. E nunca… nunca deve ser usado em proveito próprio… ou para causar o mal”. Essa passagem, em especial, praticamente confunde o mundo do personagem e o de Armando, afinal, foi a magia que o levou a pensar toda essa aventura chamada “ser autor”. – O surgimento dos livros teve dois pontos principais. O primeiro é que meus pais encerraram suas atividades profissionais próximos aos 60 anos de idade. E meu pai me falava sobre isso: de planejar o que fazer “depois”. E eu que sempre gostei de ter ideias e escrever, pensei que isso poderia ser algo que gostaria de continuar fazendo. Mas isso de maneira despretensiosa, para mim mesmo e para as minhas filhas. Não pensava em buscar sucesso, nem criava essa expectativa. Já o segundo ponto é que, quando fiz 40 anos, fomos aos Estados Unidos pela primeira vez, e conhecendo os parques da Disney, percebi que tudo que existia lá, começava sempre por uma ideia, uma história. Minha vida foi criar histórias para outras as pessoas. Assim, achei que estava na hora de criar uma história para mim, algo que pudesse deixar uma marca autoral – explica. Foi assim que, em 2014, Armandinho começou a escrever o que se transformou na série. Os dois primeiros livros foram lançados de forma independente. O primeiro chegou a vender dois mil exemplares. O PROCESSO CRIATIVO Escrever sobre magia, fantasia, foi muito difícil no começo, tive de resgatar a criança em mim. Mas era isso que eu queria escrever, porque é isso que eu leio e é disso que eu gosto.

MAGIA DAQUI PARA O BRASIL

Um apito de trem no meio da noite. Um vilarejo chamado Boca do Monte. Um túnel sinistro apelidado de Garganta do Diabo. Para quem conhece Santa Maria, é impossível não identificar as referências em meio à obra de Armandinho, que agora começou a conquistar o Brasil. O contrato assinado, no ano passado, com a Editora Vitrola, de Frederico Westphalen, uma das maiores distribuidoras de livros do país, está levando a obra para 19 estados e cerca de três mil lojas parceiras. Pela frente, estão os lançamentos em cidades como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Balneário Camboriú e Passo Fundo. Além disso, “Marvin Grinn e o Segredo da Sereia”, segundo livro da saga, já tem lançamento previsto para outubro. Para a edição nacional, o primeiro volume foi modificado. E ele já estreou na lista de livros mais vendidos da Revista Veja, em 1.º lugar da categoria infanto-juvenil, em um ranking de obras de peso como “Diário de Um Banana 1”; “Harry Potter e a Pedra Filosofal”; e “O Pequeno Príncipe”. No enredo da série, Marvin Grinn vê a sua vida mudar ao descobrir que tem, em suas mãos, um livro repleto de segredos e possibilidades mágicas. Será coincidência com o poder de conquistar os leitores de Armandinho? MAGIA DAQUI PARA O BRASIL – Esse contato maravilhoso com o público leitor. Receber os feedbacks sobre as histórias, na visão deles. Costumo dizer que eles me auxiliam demais a desenvolver as histórias, criando apelidos, expressões, e me ajudando a guiar os passos de Marvin em suas aventuras. É emocionante – e dinheiro nenhum compraria isso. Compartilhar com eles desse momento, certamente, é a melhor parte de tudo – comemora. Armandinho adiantou para a equipe da Persona muitos segredos que não podemos contar por aqui, para não dar spoiler das histórias do menino bruxo de 13 anos que está conquistando o país. Entretanto, algumas coisas ele já ousa adiantar: – Creio que o terceiro livro consolida de vez a série de aventuras de Marvin Grinn. Os personagens estão com suas personalidades cada vez mais marcantes; a escrita está mais madura, em estilo; e o enredo se desenrola de forma ainda mais fluida, pois os leitores também já têm mais afinidade com o fio que conduz a história do personagem principal: a sua busca. Um livro que adorei fazer e, parece-me, traz um crescente à sequência. Estou ansioso por lançálo em breve! Agora, quando perguntamos sobre o fim da série (a gente não podia perder a chance de dar uma informação privilegiada ao leitor!), ele desconversa: – Ah, não quero que termine… (risos). Temos um projeto bem amplo para a série, caso ela ganhe o gosto dos leitores. Uma expansão do universo Marvin Grinn está sendo preparada, e temos a possibilidade de fazer algumas versões ilustradas e contar histórias paralelas de personagens que já identificamos como coadjuvantes de “luxo”. Porém, isso tudo, claro, vai ser em um passo de cada vez. Primeiro, fazer a série de fato acontecer. Mas quem bem se planeja não pode se queixar quando as oportunidades aparecem, não é?! Por isso, sonhamos com o pé no chão, prontos para fazer nossa parte. Quanto ao resto, são os leitores que nos levam além.

A PAIXÃO PELA FAMILIA

Armando Ribas Neto e Lisiane Marquezzan Bevilaqua Ribas são pais de duas filhas, Ana Lis, 14 anos, e Laura, 10 anos. – Nos conhecemos, efetivamente, em 2007. Já havíamos nos visto, por aí, mas foi a partir de um encontro para um evento de danças de salão que estava promovendo, que viramos um par para aquela apresentação – e para a vida. Ali, vi que tinha encontrado minha parceira, que se tornaria minha esposa e companheira de todos os dias. Uma mulher que admiro pela competência, pelo talento, e que amo dividir meus dias e meus projetos. Somos cúmplices na educação das meninas e planejamos nossos sonhos individuais para se encontrarem e seguirem juntos. Nossa família está em primeiro lugar. A preocupação em ser um pai presente faz parte da vida de Armandinho. Para que isso seja possível, a família faz as refeições junta, viaja e, sempre que pode, reúne-se. – Buscamos transmitir, diretamente, nossos valores e nossas experiências de vida. Sobretudo lhes dando caráter e personalidade, pois, assim, farão suas próprias escolhas, com retidão, honestidade e orgulho de quem são. Deixando, como legado a elas, educação, cultura e nossa convivência, pois não tem herança maior do que os momentos que passamos em família e com quem amamos. Isso vale mais que qualquer dinheiro. Só sabe quem tem o que temos, o quanto é prazer em conviver, amizade para querermos estar próximos e amor genuíno – orgulha