Ter tempo para ler, com calma, livros que gosta sobre a área de empreendedorismo, como o último escolhido: "Atitude empreendedora, lições de negócios e de vida", da Junior Achievement. Poder viajar com a esposa Libera Vontobel, 74 anos, para a Europa ou quem sabe fazer um cruzeiro entre Europa e Estados Unidos, como realizaram em novembro do ano passado. Dar mais atenção para os 10 netos, com quem gosta de dividir histórias, com um olho no passado sólido que construiu e outro no futuro, na expectativa de que os negócios se perpetuem em boas mãos. Até bem pouco tempo essas atividades que hoje fazem parte do cotidiano de Ottomar Vontobel, 84 anos, eram mais difíceis devido à vida agitada à frente dos negócios da família.

Agora, como ele mesmo diz, chegou o momento de aproveitar mais a vida, não que os negócios tenham ficado de lado, afinal, ele faz parte do conselho da empresa familiar Vokin Investimentos e “gosta de dar os seus palpites”. Mas, esse é um novo tempo em que os pequenos prazeres da vida começaram a ganhar mais espaço na rotina do casal em Porto Alegre.

Se muitas coisas mudaram para Vontobel, como não poder mais caçar, pescar ou jogar golfe, como sempre gostou, porque a idade não permite, outras permanecem inabaláveis: a cordialidade é uma delas. A equipe da Persona conversou com o empresário às vésperas de ele receber mais uma das tantas homenagens que ganhou ao longo da vida, a Medalha do Mérito Farroupilha, da Assembleia Legislativa, e, apesar de se mostrar um pouco “acanhado” com a distinção, como sempre fez nos velhos tempos em que esteve à frente da CVI, ele não deixou de dizer que aquele era um reconhecimento coletivo tanto da família quanto de seus colaboradores. E, por falar em hábitos, mesmo depois de vender a empresa à qual dedicou sua vida, Vontobel ainda liga para antigos funcionários no dia do aniversário e faz questão de saber como estão as pessoas que estiveram mais perto da família em Santa Maria.

Eu faço isso porque sempre procurei valorizar as pessoas, porque ninguém faz nada sozinho, é preciso se cercar de pessoas melhores do que a gente. Sempre busquei me cercar de pessoas pela qualidade delas. Por isso, toda a vez que eu recebo um prêmio, tenho que dividir. Esse prêmio é fruto do trabalho de um conjunto de pessoas e ações –afirma o empresário.


Entrevistar Vontobel é compreender melhor porque o empresário é “essa Coca-Cola toda” e sempre foi visto com prestígio no meio empresarial brasileiro. Para começo de conversa, é preciso dizer que, quando a família começou a produzir o refrigerante, a multinacional norte-americana tinha uma percentagem muito pequena no mercado gaúcho, tendo como principal concorrente a Pepsi-Cola, que detinha quase 70% das vendas de refrigerante na época.

Para mudar essa realidade, em 1963, a família recebeu uma consultoria completa com engenheiros, químicos, equipe de marketing, encaminhados pela Coca-Cola. Mais do que somente aproveitar a oportunidade de instalar em Santo Ângelo a primeira fábrica do interior do Estado, eles souberam planejar com cuidado os passos que dariam, inclusive no que diz respeito à sucessão da empresa.

Eu me sinto me realizando, e não realizado. Foi tudo no tempo certo. A nossa empresa não é fruto de uma inteligência particular. Fui buscando subsídio, fazendo cursos sobre empresas familiares e me assessorando com bons profissionais. Sempre entendi, como os meus pais também tinham me ensinado, que os filhos devem ser treinados por profissionais, assumindo responsabilidades, cumprindo horário e respondendo a quem eles estão subordinados. Ser assessor de pai não é, nem nunca foi, uma boa função – afirma Vontobel.

Hoje, são os netos que estão recebendo, entre outras atividades, aulas de Educação Financeira.

Eu sempre disse que queria ter 10 netos. Sempre gostei de ter metas tanto na empresa, quanto na vida particular, achei que era bonito ter 10 netos. O primeiro neto foi o Davi, filho do Emerson. Quando veio a notícia foi uma grande alegria, ainda mais que esse neto nasceu no primeiro dia de janeiro de 2000, ou seja, eu não tenho netos do século passado (risos). Depois de ficarmos um longo tempo com nove netos, o Artur e a Maria Luiza fizeram um planejamento e engravidaram. No dia do meu aniversário, em 2014, o presente de aniversário foi a notícia da gravidez. Hoje, tenho os 10 netos que nós tanto queríamos, e são sete mulheres e três homens. Eu cresci em uma família que era de maioria de homens, tive quatro filhos homens, e agora tem mais mulheres que homens –conta Vontobel.

Apesar de vir de uma família de oito irmãos, cinco deles homens e três mulheres, e de ter tido quatro filhos homens: Emerson, 54 anos, Frederico, 51, Otto, 49 e Artur, 45, a presença feminina é algo marcante na vida de Vontobel.

Eu sempre valorizei muito as mulheres, e o exemplo primeiro foi vendo a minha mãe, Cristina, o braço direito do meu pai, João, e foi a pessoa que nos momentos de crise, nos momentos de dificuldade, ela sempre tinha uma palavra de otimismo, de confiança, de encorajamento, de dizer vamos em frente que vai dar certo, e as coisas acabavam dando certo. Ela segurava as pontas. Tem muita mulher que fica numa situação de neutralidade, que não toma posição, e isso não contribui, e isso não é bom. A Libera sempre foi uma grande companheira para mim também. Como eu viajava muito, ela ajudava explicando “o pai não está em casa porque ele está trabalhando para nós” – conta, orgulhoso, o empresário.


EMPREENDEDORISMO NO DNA DA FAMÍLIA

Há quem acredite que Vontobel nasceu em Santa Maria, devido ao crescimento que a CVI teve a partir do momento em que ele passou a viver na cidade e à própria relação que ele e Libera desenvolveram com a comunidade. Mas, na verdade, ele e a família moraram três décadas por aqui, de 1979 a 2009. O empresário nasceu em Três de Maio, em 21 de dezembro de 1938 e, aos 4 anos, a família foi morar em Santo Ângelo. Ele era o filho mais novo de cinco irmãos e, por sinal, era 18 anos mais novo que o mais velho.

A minha infância foi em uma fazenda bem longe da cidade, a 30 km de Três de Maio e 40 km de Ijuí. E como não havia outros amigos na volta, eu aproveitava o tempo ajudando meus pais, que, desde cedo, ensinaram os filhos a ajudar nos trabalhos de casa e nos negócios. Na época, o negócio do pai era invernar mulas para vender para São Paulo, onde existia um bom mercado. Não existiam muitos caminhões, o transporte ocorria por meio de animais. Eu sou de um tempo antigo (risos). Eu fazia de tudo, ajudava os empregados na roça, fazia roçadas, ajudava a colher cana para fazer melado e rapadura, ajudava no campo, andava a cavalo, fazia de tudo um pouco – relembra Vontobel.

A volta no tempo ajuda a compreender como o empreendedorismo parece fazer parte do DNA da família. O avô paterno, Jacob Vontobel, imigrou da Suíça para o Brasil. Ele chegou ao país sozinho, se estabeleceu em Ijuí, como colono, depois trabalhou em uma loja, se associou em uma indústria de café. Foi sócio-fundador da Sociedade de Ginástica de Ijuí e fundador da Associação Comercial e Industrial de Ijuí. Nas horas vagas, ainda cantava nos corais da igreja da cidade.

O meu avô Jacob era um líder empresarial muito interessante, mas o meu avô materno também foi empresário, e o meu pai teve um armazém onde comprava produtos dos colonos e vendia uma série de mercadorias para eles, desde tecidos até medicamentos –lembra Vontobel.

Uma das preocupações da família sempre foi que os filhos pudessem estudar. A mudança para Giruá e, depois, para Santo Ângelo acabou acontecendo por conta disso.

Aos oito anos, eu comecei a estudar numa escolinha que ficava a seis quilômetros de casa. Eu fazia o percurso a cavalo, eram 12 quilômetros a cavalo por dia. Era uma escolinha rudimentar, onde uma professora lecionava para 17 alunos, da primeira à quarta série, na mesma sala. Meu pai achou por bem irmos para Giruá, onde havia um colégio estadual melhor. O bom é que, depois disso, tudo se torna fácil. Eu fui muito estimulado a fazer as coisas, e isso me deu uma experiência muito boa. No último ano em que moramos no campo, até a bordar eu aprendi, porque uma das minhas irmãs ia casar, e a mãe contratou uma costureira e bordadeira para ficar lá em casa fazendo o enxoval, e, nos dias de chuva, eu ajudava a bordar. Hoje em dia, eu estou fora dessa, mas, na época, fazia com prazer, e a minha irmã usou um paneleiro com os guardanapos bordados por mim – conta Vontobel aos risos e garantindo que, hoje em dia, já não consegue bordar mais nada além de boas lembranças.

UM AMOR PARA A VIDA INTEIRA 

Em Santo Ângelo, além de cursar o que na época se chamava ginásio, Vontobel fez um curso técnico em Comércio. Mas, por lá, uma de suas melhores histórias, além da entrada no ramo de bebidas, foi a paixão por Libera. Um romance que parecia impossível, uma separação do casal, dificuldades pelas diferenças de fase na vida e um lindo final feliz: a história dos dois tem todos os ingredientes daquelas que arrancam lágrimas na sala de cinema.

A presença de Libera ao lado de Ottomar Vontobel é algo muito forte em suas relações pessoais e profissionais. Mas, no início, Vontobel namorava uma prima de Libera, que morava em Santa Maria.

Mas era um namorinho meio arranjado pela família, e quando essa prima ia de Santa Maria para Santo Ângelo para me ver, a Líbera ficava na função que na época a gente chamava de doce de pera, que era uma acompanhante do namoro, porque não se podia namorar sem alguém por perto. Mas esse namoro não durou muito, e quando a Líbera fez 15 anos, eu comecei a olhar para ela com olhos de interesse, achava que ela seria uma boa esposa. Naquela época, havia reuniões dançantes no Clube Gaúcho e no 28 de Maio, que eram os dois clubes principais de Santo Ângelo, e a gente sempre se encontrava, mas ainda não existia nada entre nós. Foi na festa de 15 anos dela que ocorreu o nosso encontro mais marcante. Foi ali que tudo começou – recorda Vontobel.

O casamento já dura 55 anos, e como os dois gostam de dizer, é marcado por cumplicidade, algo que se percebe que não está apenas na fala do casal, e sim, no cotidiano de ambos.

A nossa relação é marcada por muita sintonia, respeito, compreensão e aprendizagem também, porque ela perdeu o pai quando tinha seis anos, então também trabalhou desde cedo para ajudar a família, principalmente a mãe. Eu era observador, então, conhecia todas as colegas da Libera no colégio, onde eu fui algumas vezes para fazer as entregas de doces, e tive o privilégio de escolher bem – conta Vontobel.

Mas houve um período, ainda em Santo Ângelo, que o empresário achou que era melhor interromper o namoro:

Eu nunca perdi a esperança de tê-la como esposa, mas ela estava muito nova, ela é nove anos e meio mais nova do que eu, e eu queria aproveitar um pouco a vida de solteiro. Porque tem muita gente que quer aproveitar depois de casado, e aí não dá certo. Eu aproveitei bastante enquanto era solteiro. Quando voltamos a namorar, ficamos noivos e casamos quatro meses depois. Eu casei com 28 anos bem vividos, bem aproveitados, e ela tinha 19.

As lembranças do passado na conversa com Vontobel foram marcadas por muitos momentos emocionantes, mas também por outros engraçados, como quando lembrou que o primeiro presente para a amada foi um porquinho.

Como a minha mãe sempre gostou de ter um porquinho em casa, para fazer torresmo, salame, copa, o primeiro presente que dei para a Libera foi um porquinho – lembrou, aos risos.

A lua de mel do casal também deu o que falar. Como Libera não conhecia muito sobre o ramo das bebidas, Vontobel propôs que os dois fizessem visitas às maiores fábricas do ramo no Brasil.

Fizemos uma lua de mel visitando nove fábricas de refrigerantes e água mineral do Brasil inteiro. No Rio de Janeiro, paramos no apartamento dos diretores da Coca-Cola. Aquilo deu a ela uma integração ao negócio muito interessante. Ela passou a conhecer o negócio. Ela nunca trabalhou na empresa, mas sempre foi curiosa, queria saber o que eu estava fazendo, dava os seus palpites, e, muitas vezes, me ajudou a encontrar soluções para os problemas mais cabeludos.


DE UMA PEQUENA FÁBRICA A UM GRANDE NEGÓCIO

Vontobel começou a trabalhar cedo. Em 1953, com apenas 14 anos, resolveu montar um negócio próprio.

Eu me tornei representante da venda de doces e conservas dos meus irmãos, que tinham uma fábrica em Porto Alegre. Fui o primeiro distribuidor de doces deles. Eu estudava de manhã e, de tarde, saía para fazer as vendas e também as entregas nos bares e armazéns. No dia em que fiz 15 anos, o meu irmão, que já tinha uma pequena fábrica do refrigerante Laranjinha, em Santo Ângelo, me convidou para deixar de vender os doces e trabalhar com ele. Na época, a fábrica tinha 12 empregados, eu fui o 13º. Aquele foi o meu primeiro contato com o ramo de bebidas, no qual eu fiquei até o final de 2021, quando vendemos a CVI – conta, emocionado.

A empresa familiar era tão pequena que todos os processos que hoje em dia são automatizados eram feitos de forma manual.

Era uma empresa da família, mas quem tinha o controle era o meu irmão, João Jacob, e o meu cunhado, Elmer Walter Engleitner. Os demais irmãos participavam como sócios. As máquinas eram todas manuais, as garrafas eram lavadas manualmente, escovadas garrafa por garrafa.Depois, com a evolução para fabricar Grapette, a gente teve que comprar lavadoras automáticas e semiautomáticas e, em 1963, quando começamos a fabricar Coca-Cola, o nível de exigência era bem maior, e a Coca-Cola exigiu equipamentos e instalações para podermos produzir aquele produto que já era líder mundial – afirma.

O que começou com uma modesta fábrica de refrigerantes foi crescendo. Em 1956, a família passou a fabricar outro refrigerante, a Grapette, uma bebida à base de uva que marcou época. E, em 1957, conseguiu um feito e tanto, se tornou distribuidor da Coca-Cola em Santo Ângelo. Poucos anos depois, em 1963, eles abriram a primeira fábrica de Coca-Cola da família.

- Até abrirmos a fábrica, eu fiz muitas viagens de caminhão para buscar Coca-Cola, que era fabricada em Porto Alegre, para vendermos em Santo Ângelo. Naquela época, só havia fábrica em Porto Alegre e em Pelotas - conta.

Para Vontobel, ter conseguido instalar a fábrica da Coca-Cola mudou radicalmente os rumos do negócio e do sucesso das atividades.

No início, a própria Coca-Cola mandou engenheiros para ajudar a adaptar os equipamentos que nós tínhamos e comprar o que era necessário, e isso foi bem difícil, porque a gente evitou em todas as fases da vida usar recursos de terceiros, porque os juros são pesados e podem inviabilizar o negócio. Então, fazíamos as coisas com precaução para não depender de recursos de terceiros – explica Vontobel.

PÁGINA 15 e 16 – FOTO FAMÍLIA ATINGA // FOTO FAMÍLIA ATUAL

A VINDA PARA SANTA MARIA

A empresa cresceu tanto que, em 1979, eles resolveram instalar uma nova fábrica, desta vez em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Enquanto João Jacob foi para o sudeste, Otomar Vontobel passou a morar com a família em Santa Maria para gerir os negócios no Estado.

Tínhamos fábrica em Passo Fundo, Santo Ângelo, Ijuí e Santa Maria, então a cidade era um ponto estratégico. E foi muito importante, porque morei em Santa Maria por 30 anos, tivemos 30 bons anos de vida na cidade, os filhos todos estudaram, temos gratas recordações e muitos amigos por aí. Santa Maria é acolhedora, algumas famílias nos recepcionaram, colocaram a comunidade à disposição – diz Vontobel.

Ao longo dos anos em que esteve na cidade, Ottomar Vontobel assumiu um papel de protagonismo. Foi conselheiro e presidente da CACISM, criou diversas ações que beneficiaram a comunidade e fortaleceu os laços com a cidade e região. Na época de Natal, que coincide com a do seu aniversário, as caravanas do Papai Noel sempre terminavam em festa para as equipes. E qual era a criança que não gostava de visitar a fábrica da Coca-Cola da cidade com sua escola ou de ver a caravana de Natal, que marcou época?

Algo que me marcou bastante é que a concorrência era muito forte na cidade, então, em 1980, compramos um ônibus para levar as crianças das escolas para visitarem a fábrica, e elas eram incentivadas a fazer redações sobre a visita e distribuíamos réguas, lápis e outros brindes. Nós sempre tivemos muito envolvimento com a comunidade onde atuamos, procuramos apoiá-la, e o Papai Noel, que se tornou uma tradição na cidade, foi parte disso. Quando a gente faz as coisas que gosta, faz com prazer, e acho que o resultado que conseguimos tem muito a ver com isso – diz, orgulhoso.


Com o sucesso dos diferentes negócios da família, onde todos os irmãos eram sócios, à medida que os filhos foram crescendo, surgiu a necessidade de organizar o futuro das empresas. Pensando na sucessão, houve a divisão operacional dos negócios para cada irmão ficar com o controle de uma empresa. Ottomar Vontobel ficou com o controle da CVI, que reunia a fábrica de Santa Maria e Ijuí; João Jacob com a Vonpar, que reunia as fábricas de Nova Iguaçu, Pelotas e Santo Ângelo; e Henrique Tell Vontobel com a Mu-Mu.

Nessa época, a segunda geração, ou seja, os meus filhos, do João e do Henrique estavam começando a trabalhar, e essa decisão foi para dar liberdade para que cada um conduzisse os filhos à sua moda, e deu certo – garante.

Vontobel não era organizado apenas em relação à empresa. Com os filhos, bastava um assovio mais alto para acabar com qualquer bagunça. Além disso, desde os 10 anos, os quatro herdeiros passavam por atividades na empresa, já pensando em conhecerem todo o processo para, quando um dia, ocorresse a sucessão.

Na CVI, a sucessão deu tão certo como foi, porque, assim como os nossos pais tinham feito, os nossos filhos, nas férias de verão, desde os 10 anos, tinham de estagiar um mês na fábrica, com uma programação bem feita, respondendo ao chefe do setor, ou também, na firma de amigos, e eles aprenderam muito comigo. Naquela época, não havia uma proibição disso, era a forma que achávamos correta de educar para o futuro. O Emerson, com 15 anos fazia a contabilidade de uma das empresas do grupo; o Otto com 14 anos, foi trainee do Banco do Brasil; o Artur bem jovem teve o Café Brasil com alguns amigos e, por mais que não gostássemos desse ramo de boates, só pelo espírito empreendedor que ele teve, apoiei – conta Vontobel.

Talvez para muitos empreendedores, planejar a sucessão e o momento de transferir ônus e bônus de uma empresa para os filhos seja algo distante. Mas Vontobel planejou isso ao longo da vida. Século novo, vida nova! Então, ele e Libera conversaram e acharam que era hora de fazerem um teste: pela primeira vez, ele se afastou da empresa por três meses, logo no início dos anos 2000, e os dois ficaram morando na Espanha.

Eu queria sentir como a empresa funcionava longe da minha presença, ficamos morando lá e recebia pela internet os informes diários do negócio, me certifiquei estar na hora de fazer a sucessão. Na época, eu tinha 62 anos e o Emerson 32 anos, ele assumiu a presidência, e eu passei para o Conselho. A partir de então, a gente admitiu conselheiros externos para dar mais profissionalismo à empresa. O Emerson tinha feito vários cursos, tinha mesmo preparo para assumir o negócio, que andou melhor nas mãos dele do que nas minhas, porque tudo se tornou mais profissional, incentivando e cobrando por meio do conselho. Passamos o bônus e o ônus, transferimos a responsabilidade para eles, tínhamos confiança de que eles não usariam mal isso, e estávamos certos – diz Vontobel, orgulhoso do processo que conduziu e dos filhos que criou.

Muito mais difícil do que a sucessão foi a decisão de vender a CVI, tanto que ela foi adiada por muito tempo.

As propostas vinham acontecendo há muito tempo, e vínhamos postergando, até quando chegamos à conclusão de que não devíamos adiar mais. Foi um processo longo, mas bem trabalhado. O Emerson teve uma atuação muito importante, sempre contando com apoio dos três irmãos, que formavam um comitê de apoio ao presidente. Era um negócio de uma vida, não podia ser diferente – afirma.

Um homem que se orgulha dos passos sólidos que construiu, que se envolveu com a comunidade de Santa Maria, que até hoje valoriza as pessoas que estiveram ao seu lado ao longo da vida. Mais do que retratar a história de uma empresa ou de um grupo de empreendimentos, contar sobre Ottomar Vontobel é falar de dedicação, de bons relacionamentos, de seriedade nos negócios e, ao mesmo tempo, de um bom humor capaz de fazer a repórter dar boas risadas enquanto conhece sua trajetória. A história da CVI é muito interessante, mas a do homem que dedicou uma vida à empresa, se mostra ainda mais fascinante em cada detalhe.


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Por: Marilice Daronco


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